Frente a um dos principais desafios do milênio – o da produção sustentável – , a agricultura regenerativa se apresenta como uma alternativa que pode beneficiar não só o meio ambiente como também a rentabilidade e a durabilidade de um empreendimento agrícola. Não sem razão, os principais players do mercado de produção de alimentos já adotaram práticas de manejo mais verdes, mostrando que essa tendência veio para ficar.
Levando em conta que o agronegócio é um dos protagonistas da economia brasileira, é urgente a popularização de ações de mitigação de danos. Praticar uma agricultura preocupada com a conservação e preservação de recursos naturais independentemente do tamanho do empreendimento pode ser parte da solução do problema.
Mas você sabe o que é agricultura regenerativa e seus principais benefícios para a natureza e para o produtor rural? Neste artigo, você aprenderá um pouco mais sobre essas práticas conservacionistas e porquê deve começar a aplicá-las ainda hoje.
O que é agricultura regenerativa?
Antes de entrarmos no conceito, vale destacar que a agricultura regenerativa não é necessariamente algo novo. As primeiras práticas conservacionistas para sistemas agrícolas datam dos anos 1940 e foram constantemente revisitadas desde então.
Fonte: Agrotools
A agricultura regenerativa é um conceito criado em 1983 pelo pesquisador estadunidense Robert David Rodale, que dedicou sua carreira a encontrar práticas agrícolas que respeitassem a disponibilidade finita de recursos naturais. Para Rodale, a necessidade de produzir alimentos em quantidades cada vez maiores fez com que produtores abandonassem práticas de conservação ambiental em nome da necessidade de uma produção escalável. Essa escolha, entretanto, não levou em conta que seria possível usar as mesmas técnicas agrícolas de pequenas propriedades em produções de larga escala.
Assim, Rodale criou a agricultura regenerativa, uma forma de manejo sustentável que permite produzir em pequenos, médios e grandes empreendimentos, mantendo a lucratividade independentemente do modelo.
Para que ela funcione e seja lucrativa, entretanto, é preciso seguir alguns princípios básicos:
- Priorizar a rotação de culturas ou diversificar as espécies em uma mesma área;
- Diminuir e, de preferência, não utilizar fertilizantes e defensivos sintéticos;
- Utilizar plantas de cobertura;
- Prezar pelo desenvolvimento de outras plantas além da espécie a ser comercializada;
- Reduzir a aração do solo;
- Incentivar o bem-estar animal;
- Fazer um bom manejo do pasto para o gado;
- Prezar por práticas de trabalho justas para os agricultores.
Mas muita coisa mudou desde o conceito e dos princípios criados por Rodale e novas técnicas – que visam tornar a agricultura regenerativa cada vez mais eficaz e atrativa para o produtor – foram criadas.
Inovação sustentável: produzindo mais e melhor
Com o passar dos anos e o desenvolvimento da tecnologia, a agricultura regenerativa tornou- se cada vez mais popular. O uso de bioinsumos como biofertilizantes, inoculantes, promotores de crescimento para plantas de origem natural, entre outros, provou-se consideravelmente eficaz para o equilíbrio do solo, saúde e vigor das plantas, atraindo o interesse de produtores do Brasil e do mundo.
Historicamente, contudo, o produtor brasileiro mostra-se mais preocupado com a sustentabilidade e merece destaque quando o assunto é conservação da natureza e mitigação de danos ambientais. Mais que isso, o uso de bioinsumos reduz os custos de produção, aumentando a margem de lucratividade e atraindo ainda mais produtores para a agricultura regenerativa.
Serviço de regeneração de ecossistema: benefícios e práticas. Fonte: Pure Projet
É por isso que, acompanhando a 3ª revolução tecnológica da agricultura, o Brasil lidera a utilização de biológicos na agricultura e já são mais de 32 milhões de hectares produzindo de maneira sustentável e modelos de larga escala.
Frente a esse novo cenário, o conceito de agricultura regenerativa foi revisitado pelo pesquisador Gabe Brown, pioneiro no movimento pela saúde do solo focado em regeneração. De acordo Brown, a agricultura regenerativa deve seguir cinco princípios principais:
- Melhoria da biodiversidade;
- Utilização de culturas de cobertura ao longo de todo ano;
- Eliminar todo tratamento mecânico, químico e físico do campo;
- Preservar os sistemas radiculares das culturas perenes;
- Integrar o gado na produção de culturas.
Fonte: GeoPard Agriculture
Vale lembrar que o uso de cada um desses princípios, sua utilização e combinação, será determinado pela região, tipo de empreendimento e especificidades agrícolas de cada cultura e local.
Produção sustentável: o presente do futuro
Mostramos até agora que a agricultura regenerativa é muito mais que salvar florestas. Pelo contrário, consiste em uma série de técnicas que você pode aplicar em seu empreendimento, independentemente do modelo de negócios. O número de práticas sustentáveis é gigantesco, mas as principais são:
- Plantio direto e cultivo de pastagens: duas das mais populares estratégias de manejo sustentável, o plantio direto e o cultivo de pastagens visam a conservação do solo. O primeiro reduz a erosão e as emissões de dióxido de carbono. O segundo, auxilia no aproveitamento de grãos, utilizados como gramíneas em pastagens;
- Biochar e terra preta: mais saudável que o carvão natural, o biochar condiciona a presença de matéria orgânica nos solos, mantendo a fertilidade. Em alguns casos, é capaz de aumentar em até setenta vezes o teor de carbono em solos considerados estéreis;
- Pastoreio holístico: consiste em uma série de técnicas como uso rotativo de pastagens, integração lavoura-pecuária e integração lavoura-pecuária-floresta. Auxilia na fertilização de pastos, evita erosão e compactação do solo;
- Integração de animais na produção de culturas: essa abordagem visa promover a fertilidade do solo integrando inimigos biológicos naturais para combater pragas e doenças nas culturas. Também é benéfica para o gado que, integrado na cultura, exerce mais livremente seu comportamento animal natural;
Fonte: Envolverde
- Bioinsumos: a priorização de insumos de origem natural e biológica é uma das principais técnicas sustentáveis para produção em larga escala. Eles ajudam a recuperar áreas degradadas a um custo relativamente baixo e asseguram a produtividade com possibilidade de geração de crédito carbono;
- Cultivo anual orgânico: nessa técnica, toda a produção é livre de pesticidas e fertilizantes químicos. Aqui, a margem de lucro é menor e a produção em larga escala por ser mais desafiadora, mas, a longo prazo, assegura a saúde do solo e a longevidade dos recursos naturais;
- Compostagem ou chá de compostagem: o chá de compostagem é um líquido rico em microorganismos e nutrientes e, quando aplicado à terra, se mostra um grande aliado do crescimento das plantas.
Existem outras estratégias de agricultura regenerativa e a tendência é que, com inovação e tecnologia, apareçam muitas mais. A cada mês surge uma nova tecnologia para a produção sustentável e os especialistas alertam: esse é o futuro e vai acontecer muito rápido! E você? Está preparado para embarcar nessa jornada?
Confira também nosso artigo sobre adubação verde: sustentabilidade e economia na sua produção
Pingback: Agricultura Regenerativa: conheça mais sobre esse assunto