Agricultura global precisa de uma revolução verde permanente

A necessidade premente de uma revolução verde constante na agricultura global é vital para enfrentar os desafios climáticos, garantir a eficiência dos recursos e assegurar a resiliência do sistema alimentar mundial.

Um dos maiores desafios da humanidade para o futuro é a produção de alimentos. Com a previsão de que a população mundial deve chegar a 9,7 bilhões de pessoas em 2050, é preciso repensar as práticas e a produtividade na agricultura. Mas há uma solução no horizonte, chamada de revolução verde. Neste artigo, você vai ver como um novo modelo de produção pode amenizar as mudanças climáticas e assegurar a produção suficiente de alimentos. Vamos lá?

Os desafios da agricultura global

A cada ano, a população mundial cresce um pouco mais. Até o momento, agricultores do mundo todo tem focado seus esforços em produzir alimento para pessoas em todo o mundo. Ainda que já normalizado, é impossível não reconhecer o tamanho desse feito: em 1900, o número de pessoas no planeta terra era de 1,6 bilhão. Hoje, já são mais de 8 bilhões e a previsão dos especialistas é que esse número chegue em 9,7 bilhões em menos de trinta anos.

Fonte: Brasil Escola

Apesar do desafio, até agora o número de terras cultivadas cresceu apenas 30%. Isso só foi possível com uma remodelação dos modelos de agricultura, focados em produtividade e eficiência. Contudo, existem alguns problemas que tornam esse desafio ainda maior: alterações climáticas, resistência química de pragas e doenças, degradação ambiental, entre muitos outros. A inovação e a tecnologia chegam ao campo como grandes aliadas, não somente da quantidade produzida como também de práticas sustentáveis a longo prazo.

Neste último século, a agricultura passou por três revoluções distintas:

  • Revolução das máquinas: iniciada ainda nos anos 1900, nos EUA, a inserção de máquinas no cotidiano do campo fez com que a força de trabalho rural no país passasse de 41%, em 1900, para apenas 2% em 2023. No Brasil, as primeiras máquinas chegaram apenas nos anos 1960, quando a agricultura deixou de ser majoritariamente rudimentar.
  • Revolução química: outra grande revolução teve como ponto de partida a extração de azoto do ar, que permitiu a criação de fertilizantes químicos. Com isso, a produção de alimentos cresceu consideravelmente. Além disso, a criação de pesticidas e insumos químicos deu aos agricultores uma arma contra doenças, pragas e plantas daninhas.
  • Revolução verde: ou Green Revolution, que vamos aprofundar a seguir, só foi possível a partir do momento em que os pesquisadores conseguiram decifrar o genoma das plantas, gerando cultivares mais produtivas e resistentes. Em países como Índia, Paquistão e México, agricultores chegaram a triplicar sua produção.

No Brasil, de acordo com dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), entre 1980 e 2021, a produção de alimentos cresceu mais de 400%. Esse progresso só foi possível graças aos fertilizantes de origem química, que aceleraram a produtividade, mas, por outro lado, deixaram no caminho um rastro de emissões de óxido nitroso, um gás com capacidade até 300 vezes maior que o CO2 com efeito estufa. De acordo com pesquisadores, apenas os fertilizantes já causam mais danos à atmosfera terrestre que o setor marítimo e de aviação somados.

Porteira à dentro, os produtos químicos já não conseguem mais dar os mesmos resultados que antes para os produtores rurais. Pragas e doenças criaram resistência aos insumos aplicados e são responsáveis pela destruição de 40% das culturas. Isso tem forçado agricultores a usar ainda mais produtos químicos. Além da resistência, existe outro agravante: 70% dos pesticidas usados em todo mundo são aplicados de forma incorreta e 50% da produção de fertilizantes vai pelo ralo, pois são aplicados em culturas incapazes de absorvê-las.

Mas ainda há tempo: a revolução verde apenas começou e parece o caminho para uma produção de alimentos mais eficaz e sustentável.

Uma nova Revolução Verde?

A Revolução Verde nada mais é que o processo de transformação na agricultura global, que começou na segunda metade do século XX. Ela também é chamada de Paradigma da Revolução Verde, pois significou uma profunda mudança na forma de produzir. Graças às inovações tecnológicas, países com potencial agrícola passaram a produzir de forma nunca vista.

Por isso, quando pensamos em Revolução Verde na agricultura, pensamos também em tecnologia e pesquisa científica. O grande avanço só foi possível graças ao investimento do Estado, de indivíduos e entidades privadas em extensas pesquisas. São quatro os pilares que sustentam a revolução verde:

  • Melhoramento genético
  • Modernização do maquinário
  • Modernização dos sistemas de irrigação
  • Modernização dos insumos agrícolas

A principal vantagem foi, sem dúvidas, a eficácia na produção agrícola. Especialmente para as culturas de cereais e grãos, como soja e milho, os produtores presenciaram um aumento significativo no rendimento.

No Brasil, a Revolução Verde foi impulsionada pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento e pela fundação de grandes órgãos de pesquisa, como a Embrapa, fundada em 1973.

Porém, as consequências para o meio ambiente para a sociedade também foram intensas: o êxodo rural, o aumento do desemprego no campo, o uso descoordenado e sem orientação de insumos agrícolas de origem química, a poluição do solo e da água, entre outros. Por isso, logo no início dos anos 2020, começou-se a falar de uma Revolução Verde Permanente.

Fonte: Estratégia Vestibulares

Segundo Sergio Schneider, especialista em desenvolvimento rural e professor da UFRGS, em palestra na 3ª Conferência Internacional Agricultura e Ambiente em uma Sociedade Urbanizada, a transição para um modelo mais sustentável é inevitável, mas lenta. Porém, já existem estatísticas que demonstram que somos capazes de nos adaptar.

“A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) indica que já somos capazes de alimentar a população mundial sem destruir o meio ambiente. O desafio do século 21 é desenvolver sistemas de produção sustentáveis para alimentar o planeta.”, afirma o pesquisador.

Por fim, é preciso também uma mudança na cultura, que aproxime a cidade do campo e mostre na prática os desafios da produção de alimentos. Na mesma conferência, o especialista em sociologia rural, Jan Douwe van der Ploeg, disse algo que precisamos levar para nosso futuro: “As cidades só podem ter suas necessidades alimentares satisfeitas se tiverem uma zona rural dinâmica”. A solução pode estar na aproximação entre os meios rural e urbano. Ainda na mesma conferência, Patrick Carron, presidente do Painel de Especialistas de Alto Nível do Comitê Mundial de Segurança alimentar, disse:

“Muitas vezes consideramos o desenvolvimento urbano como uma falha do meio rural. Está errado. É preciso um pacto de interconexão rural e urbano. Vivemos uma epidemia de sobrepeso e obesidade que demanda uma transformação de todo o sistema alimentar visando sustentabilidade e justiça social.”

Confira também: A agricultura convencional e seus desafios: por que adotar tecnologias agrícolas sustentáveis é a chave para o futuro

Forbes

Mundo Educação

Correio Braziliense

Globo Rural

Cientista social, mestranda em Educação com pesquisa na área de Ideologia da Família. Apaixonada por antropologia, psicanálise, historiografia, literatura e música. Atua como Designer instrucional, produzindo materiais didáticos em diversas mídias, conteúdo para redes sociais e marketing (B2B e B2C), usando técnicas de UX e Copywriting. Longa experiência com revisão de textos - acadêmicos e para a web -, redação e produção de conteúdo educacional.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *