Sistemas de integração: uma abordagem mais sustentável para a agricultura

De acordo com pesquisa desenvolvida pela Embrapa Sistemas de integração apresentam alto índice de sustentabilidade

Uma nova pesquisa desenvolvida pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) demonstra que os índices de sustentabilidade dos sistemas integrados (agricultura, pecuária e silvicultura) foram superiores aos das fazendas produtoras exclusivamente de grãos ou pecuária. Na prática, isso evidencia a importância dos sistemas integrados para alcançar melhores resultados no se refere às dimensões econômica, ambiental e social das propriedades.

O resultado da pesquisa foi publicado como artigo na revista científica, com o título de Agronomy for Sustainable Development e destaca 18 indicadores que permitem avaliar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, além de 22 estudos de caso sobre os sistemas de produção mais comuns no estado de Mato Grosso, passando pelos seus três biomas, ou seja: Amazônia, Cerrado e Pantanal.

 “Escolhemos este método porque contempla as principais características dos modelos multicritério descritos na literatura científica para avaliar a sustentabilidade de sistemas agrícolas, além de oferecer a vantagem de compartilhar variáveis ​​contínuas e categóricas e considerar a imprecisão inerente à análise de sustentabilidade, oferecendo um resultado numérico”, diz um dos autores do artigo, o pesquisador Júlio César dos Reis , da Embrapa Cerrados.

Ainda de acordo com ele, o conjunto de indicadores e o modelo de análise foram construídos pela associação das atividades produtivas a resultados econômicos, ambientais e sociais efetivos, indicando que a sustentabilidade é considerada como um todo, e não como a soma de seus componentes.

Para melhor compreender os resultados, a estrutura do modelo forma um índice de sustentabilidade (IS), que é composto por três indicadores parciais e seis subindicadores. Assim, essa estrutura possibilita a comparação entre os diferentes sistemas agrícolas e favorece a análise dos contributos de cada indicador para a respectiva dimensão de sustentabilidade e para o resultado final.

Esses indicadores e subindicadores levam em conta, principalmente, as decisões de gestão dos agricultores, o que permite a análise da sustentabilidade da rotina de vida de cada fazenda, a partir de cálculos que não necessitam de  grandes recursos matemáticos ou computacionais. 

Ao todo, foram realizados nove estudos de caso de rotação soja-milho e um de rotação soja-milho-feijão (totalizando dez fazendas de grãos), sete estudos de caso de gado de corte (em fazendas de gado) e cinco estudos de caso com fazendas em sistema integrado (quatro com rotação soja-milho combinada com pecuária e uma com gado e teca destinados à produção de madeira).

Assim, a pesquisa constatou que as fazendas com sistemas integrados obtiveram valores médios e altos para o índice de sustentabilidade (IS), com destaque para duas fazendas com sistemas integrados, uma com sistema integrado pecuário-florestal (ILF) e outra com sistema integrado lavoura-pecuária (ILP), que apresentaram, respectivamente, os seguintes índices: 91,87, 91 e 78, números que representam alto desempenho nas três dimensões , ou seja, termos econômicos, sociais e ambientais.

Equilíbrio nas dimensões

Com destacam os autores, os diferentes resultados entre as fazendas que utilizam sistemas integrados mostram que é difícil estabelecer uma conclusão geral sobre os benefícios da intensificação sustentável, pois não são específicos para cada contexto. “O fato de as fazendas usarem sistemas integrados não garante um IS alto. Eles devem ter um desempenho elevado e equilibrado nas três dimensões da sustentabilidade”, ressalta o pesquisador Geraldo Stachetti, da Embrapa Meio Ambiente.

A pesquisa também constatou que as fazendas de gado foram as com os menores resultados de SI, mesmo a que utiliza sistemas de manejo de pastagens, melhoramento genético e confinamento de animais.

Já as três fazendas que ficaram no grupo A (Fazendas de alto desempenho) são uma com sistema ILF e duas com sistema ICL.

Por outro lado, quase todas as fazendas de grãos e duas com sistemas integrados foram inseridas no grupo B (Fazendas de desempenho médio), que foi dividido em dois subgrupos: B1 (composto principalmente por aqueles que apresentaram bom desempenho econômico associado a desempenhos sociais e ambientais médios) e B2 (fazendas que apresentaram baixo desempenho econômico associado a desempenhos socioambientais médios).

Por fim, todas as fazendas de pecuária e duas fazendas de grãos foram incluídas no grupo C (Fazendas de baixo desempenho), que também foi dividido em dois subgrupos: C1 (fazendas com resultados muito baixos em duas ou três dimensões de sustentabilidade) e C2 (com as três fazendas que tiveram resultados muito baixos nas três dimensões e, consequentemente, o pior SI).

Conclusão

Os pesquisadores também chegaram à conclusão que o modelo de análise proposto pelo estudo mostra que interações harmônicas entre as dimensões da sustentabilidade em fazendas com sistemas integrados resultam em situações favoráveis ​​e geram uma trajetória contínua e sustentável. 

Assim, apesar de não estarem no topo de todos os indicadores parciais, as fazendas do grupo A apresentaram alto desempenho em todos eles. “Esses resultados demonstram que não há ‘perdedor ou vencedor’ nas três dimensões. Destaca o papel fundamental da gestão para que os agricultores se beneficiem das interações entre as dimensões da sustentabilidade dos sistemas integrados, que exigem alto nível de gestão e consciência ambiental para aumentar a eficiência na utilização dos recursos, que, por sua vez, também levam para melhores desempenhos econômicos e sociais”, ressalta Inácio de Barros, pesquisador da Embrapa Gado de Leite.

Na pesquisa, as fazendas de grãos apresentam altos índices de erosão da camada superficial do solo e, principalmente, de escoamento superficial, que indicam impactos ambientais negativos devido ao cultivo contínuo em larga escala, o que compromete a capacidade do sistema de continuar produzindo ao longo do tempo.

Já no caso das fazendas de gado, foi constato que a intensificação sustentável das pastagens a partir do uso de tecnologias seria suficiente para aumentar a produtividade, o que disponibilizaria áreas para produção de carne, grãos, madeira e combustível para atender à demanda mundial.

Por fim, os pesquisadores defendem que o modelo apresentado na pesquisa desenvolvida pela Embrapa tem potencial para se tornar uma importante ferramenta para analisar a sustentabilidade dos sistemas de produção em escala agrícola, além de auxiliar os agricultores no momento da tomada de decisão.

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Jornalista, mestre em Tecnologias, Comunicação e Educação, revisor e redator freelancer. Atua como repórter e assessor de imprensa e já publicou dois livros como autor independente. Tem interesse por cinema, literatura, música e psicanálise.

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