Como parte das comemorações pelos seus 50 anos, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou, nesta semana, o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura da soja. A versão de 2023 tem como uma das novidades o uso de metodologia baseada em parâmetros mais abrangentes no que se refere à caracterização de classes de água disponível no solo.
Na prática, uma das mudanças mais significativas é que a nova metodologia passará a adotar seis classes de água disponível (AD), definidas com base na composição textural dos solos, para estimar a água disponível. O fato representa um importante avanço, uma vez que desde 1996, o Zarc Soja utiliza classificação com três tipos de solo, estabelecidos, sobretudo, a partir do teor de argila.
Com isso, a estimativa será customizada para o solo de cada área de produção com base nos teores de silte, areia e argila, obtidos por meio do uso de uma equação, definida pela Embrapa Solo (função de pedotransferência) e ajustada para as características dos solos brasileiros.
A expectativa é que a publicação das portarias que atualizam o zoneamento para a cultura da soja no Brasil seja feita em breve pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “Esperamos que essa atualização na metodologia do Zarc aumente a qualidade das informações disponíveis para subsidiar a gestão de riscos e o planejamento da produção de soja”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias.
“Essas mudanças no Zarc ampliarão o escopo de avaliação da realidade dos sistemas produtivos brasileiros, melhor expressando os riscos associados à produção de soja”, ressalta Farias.
O pesquisador também explicou que o novo Zarc foi preparado para incorporar, já nas próximas atualizações, o efeito de diferentes níveis de manejo do solo. “Nosso objetivo é minimizar os riscos e possibilitar maior estabilidade da produção e de renda para o sojicultor, o que é estratégico para a manutenção da capacidade produtiva brasileira”, destaca.
A estratégia tem sido mensurada pela Rede Zarc de Pesquisa da Embrapa e já atende às determinações de portarias que definem os períodos de vazio sanitário e de calendarização da soja, estabelecidas pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), amparados pela Instrução Normativa Nº 1, de 21 de junho de 2022.
Adaptação à realidade
Ao longo dos anos, o Zarc Soja tem recebido importantes melhorias, sempre voltadas às necessidades de cada momento, sobretudo no que se refere à gestão de riscos e à possibilidade de redução das perdas pelo clima.
Dessa vez, não foi diferente. “Precisamos acompanhar as inovações tecnológicas, o novo arcabouço técnico-científico disponível e as recentes mudanças nos cenários agrícolas e socioeconômico do Brasil e do mundo”, lembra o pesquisador.
Com isso, o zoneamento agrícola tem o objetivo de reduzir os riscos relacionados aos problemas climáticos e permitir que o produtor identifique a melhor época para semear, o que varia de acordo com fatores como a região do país, a cultura e os diferentes tipos de solos.
Essas especificidades tornam o Zarc Soja ainda mais relevante, pois ele tem capacidade para identificar as áreas com maior ou menor frequência de déficit hídrico, especialmente durante a floração e o enchimento de grãos de soja, vistos como a fase mais crítica da produção da cultura, em função das diferentes épocas de semeadura, da disponibilidade hídrica de cada região, do consumo de água nos diferentes estádios de desenvolvimento da cultura, da capacidade de água disponível no solo e do ciclo da cultivar utilizada.
O pesquisador da Embrapa Soja também lembra que o zoneamento agrícola auxilia em outros pontos, inclusive avaliação de espécies de cultivo, ciclos mais viáveis para cada município, sistema de produção, adequação das cultivares mais rústicas e resilientes ou de alto potencial produtivo, adoção de práticas de manejo adequadas, viabilidade da segunda safra e época de menor risco para a semeadura e produção.
Mudanças climáticas
Como bem sabe o produtor rural, as perdas ocasionadas pelas estiagens estão entre os principais desafios para a produção de grãos. “Face a isso, o Zarc se apresenta como ferramenta imprescindível para melhor subsidiar o processo decisório no campo, orientar as ações de planejamento do uso da terra e buscar maior eficiência das políticas e dos programas públicos de auxílio e fomento ao setor agrícola”, afirma Farias.
O pesquisador também lembrou que atualmente o zoneamento é utilizado pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e pelo Programa de Seguro Rural (PSR) em mais de 40 culturas. O acesso à ferramenta pode ser feito no aplicativo móvel Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital, que está disponível nas lojas de aplicativos iOS e Android.
Os resultados do Zarc também poderão ser consultados e baixados por meio da plataforma “Painel de Indicação de Riscos” e nas portarias de zoneamento agrícola por estado.
Leia também: Inclusão da soja e do arroz no Sistema de Classificação de Terras para Irrigação
Conclusão
A versão de 2023 do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura da soja foi apresentado pela Embrapa e propõe importantes mudanças no dia a dia do produtor, afinal, a nova metodologia passará a adotar seis classes de água disponível para estimar a água disponível.
O avanço evidencia, mais uma vez, a relevância do trabalho da Embrapa, responsável pelo desenvolver e colocar em prática importantes tecnologias, sempre pautadas em aspectos como o aumento da produção agrícola, o avanço tecnológico e, claro, o respeito ao meio ambiente.
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