Embora, de maneira geral, os ácaros sejam considerados pragas secundárias em soja no Brasil, existem épocas do ano em que se tornam uma grande dor de cabeça para o produtor. Nas últimas semanas, inclusive, tem sido frequente em diversas regiões do país a ocorrência de brotos de soja com folhas enrugadas, além de pecíolos e hastes retorcidos, com coloração castanho-escura, situações que podem indicar a presença do ácaro-branco (Polyphagotarsonemuslatus) na plantação.
O ataque dessa praga pode ser observado com mais facilidade a partir do bronzeamento na haste da planta da soja, no entanto, essa mudança ocorre apenas na parte externa, uma vez que a coloração interna permanece normal, o que pode ser observado quando se corta a haste. É justamente isso que diferencia o ataque do ácaro-branco da ocorrência de doenças causadas por vírus, como é o caso da chamada necrose-da-haste.
O ácaro-branco tem preferência por tecidos em crescimento, motivo pelo qual as folhas em desenvolvimento ficam pequenas e levemente enrugadas, além de a planta como um tudo ficar com menor porte. Ao contrário das viroses, no caso de ataque do ácaro-brando, o enrugamento das folhas de soja acontece de forma simétrica em ambos os lados dos folíolos e com intensidade similar entre cada folíolo da mesma folha e não são observadas manchas ou estrias de coloração diferente na folha
Outro fato que chama a atenção é que o ataque de ácaro-branco raramente ocorre de maneira intensa em plantas isoladas na lavoura, uma vez que essas pragas preferem as reboleiras, mesmo aquelas irregulares e compostas por poucas plantas.
Diante disso, cabe ao produtor ficar atento aos riscos oferecidos pelos ácaros, afinal, eles são pequenos, mas têm bastante potencial destrutivo. A questão do tamanho, inclusive, é um desafio para o produtor, pois a fêmea do ácaro-branco mede em média 0,17 mm e o macho, 0,14 mm, o que dificulta a observação a olho nu.
O ácaro-branco, inclusive, é pequeno até mesmo se comparado ao ácaro-rajado, ao ácaro-verde ou aos ácaros-vermelhos, esses últimos, bastante comuns nas plantações de soja.
Também é uma informação relevante para o produtor o fato de que o ácaro-branco vai do nascimento até a fase adulta em um período que curto, que varia de 5 a 8 dias, de acordo com a temperatura. Períodos úmidos e quentes, como os que têm sido observados em diversas regiões do país nos últimos meses, favorecem a proliferação da praga.
Dificuldades no combate
Outro desafio enfrentado pelo produtor ocorre porque, como o ácaro-branco é uma praga secundária e esporádica, simplesmente não existem acaricidas registrados no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o seu controle.
Apesar disso, acaricidas devem ser aplicados para combater a praga, ainda que não tenham sido desenvolvidos essa finalidade. A aplicação deve ser feita com bastante cautela e de forma localizada, apenas nas áreas afetadas.
Caso isso não seja feito, o ataque pode facilmente resultar em perdas de produtividade, além de afetar a formação de vagens e o enchimento de grãos nessa região da planta. Por outro lado, desde que já tenham completado o seu desenvolvimento, as folhas, os pecíolos, as hastes e as vagens que não são afetados pelo ataque do ácaro-branco.
Por outro lado, é fundamental que o produtor compreenda que mesmo após a aplicação de acaricida, os sintomas causados pelo ataque em folhas, hastes e pecíolos bronzeados não serão revertidos, o que pode causar a falsa impressão de que o controle não foi efetivo. A indicação, portanto, é que as plantas sejam novamente analisadas alguns dias após a aplicação.
Isso deve ser feito antes de aplicar novamente o produto, até porque a aplicação em excesso de acaricidas pode gerar populações de pragas mais resistentes e, portanto, mais difíceis de serem combatidas.
Conclusão
Visto como um risco secundário e às vezes até considerado “praticamente inofensivo”, o ácaro-branco tem sido um problema nas plantações de soja em diversas regiões do país, especialmente porque são pequenos, mas causam grandes estragos.
Seus ataques podem ser identificados, sobretudo, a partir do bronzeamento da parte exterior da haste da planta da soja e prejuízos à formação de vagens e enchimento de grãos nessa região da planta.
A praga evita atacar plantas isoladas, mas se move com facilidade entre plantas próximas, causando estragos consideráveis em cada uma delas. Devido a todos esses riscos, cabe ao produtor ficar atento à sua plantação e combater a praga por meio da aplicação de acaricidas, embora não exista um produto específico para eliminar o ácaro-branco.
Vale destacar, no entanto, que o produto deve ser aplicado em locais e dosagens adequados, para que o problema seja resolvido sem criar gerações mais resistentes à aplicação de acaricidas.
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