Whatsapp e Marketplace: produtores brasileiros usam mais tecnologia de compras online na hora da compra do que norte-americanos e europeus
O produtor rural tem se rendido às plataformas onlines para a compra de insumos. Foi o que apontou a pesquisa “A mente do agricultor brasileiro” realizada pela McKinsey&Company nos últimos três anos. Apesar da resistência em fazer todo o processo, o digital tem feito cada vez mais parte da rotina no campo. Aquisição de insumos, maquinários e até a comercialização, tudo feito sem sair da fazenda. A consultoria ouviu mais de 200 mil produtores no Cerrado, Matopibá, Centro-Sul, e Sul do Brasil, além de agricultores de nove países, entre eles Argentina, Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha e China.
O resultado mostrou que o brasileiro no campo usa mais tecnologia para fazer compras do que produtores dos Estados Unidos e Europa. No comparativo, apenas 31% dos norte-americanos, e 22% dos europeus, adquirem insumos por meio eletrônico. Aqui no Brasil, os pioneiros são os produtores de algodão e grãos, que mais adotam ou pretendem adotar tecnologias agrícolas para suas operações. A grande maioria dos interessados em inserir a tecnologia na fazenda está na faixa etária de 18 e 34 anos. O avanço pode ser considerado uma herança da pandemia, já que com a necessidade de isolamento, muitos filhos que saíram do campo para estudar nos grandes centros, precisaram voltar para casa e levaram junto a praticidade do digital.
Aplicativos e plataformas mais utilizadas
O Whatsapp é o aplicativo mais utilizado, seja para a comunicação e solução de problemas internos da fazenda, ou para a negociação de insumos e maquinários da porteira para fora. Na sequência plataformas de acompanhamento climático, que é um ponto essencial para o avanço dos tratos culturais, plantio e colheita. Mas o uso de marketplaces, que são espaços exclusivos para compra e venda de produtos agrícolas cresceu, dois players foram mais citados de forma espontânea e correspondem a 89% do mercado no segmento.
Dos entrevistados, 41% utilizam plataformas onlines para a compra de insumos. Outros 71% fazem uso do mix presencial e digital, passando por todo o atendimento online antes de concluir a negociação pessoalmente.
Agro fintechs
A pesquisa apontou também que 35% dos produtores ainda usam dinheiro como principal fonte de pagamento e 32% crédito na loja ou financiamento bancário. Se as compras são feitas de forma digital, a captação de crédito também tem ficado cada vez mais conectada. No último ano, o número de startups de crédito com foco no agronegócio chegou a 50, o dobro das 24 fintechs agro que existiam em 2019.
Em um banco convencional, além de ser necessário o atendimento presencial, o processo de acesso ao crédito pode levar até 30 dias para ser concluído. Na fintech, o recurso é liberado em até dois dias de forma totalmente online. Com facilidades como a Cédula do Produto Rural (CPR), o dinheiro cai na conta do produtor sem que ele precise sair da fazenda nem para assinar os contratos. Os serviços financeiros prestados vão desde o crédito, até a análise e comercialização para produtores. A busca de capital de giro e a compra de equipamentos agrícolas são os principais motivos para a necessidade de financiamento rural.
Principais barreiras para a adesão do digital
O estudo da McKinsey&Company apontou ainda que somente 29% dos agricultores ouvidos fazem a compra de forma totalmente presencial, e após o pico da pandemia, a preferência, não apenas dos brasileiros, mas também dos norte-americanos e europeus, atingiu um platô. Em 2019, 36% utilizavam os canais onlines para compra, em 2021 o número atingiu o pico de 46%, e neste ano 41% dos produtores escolhem os meios digitais para adquirirem produtos.
Segundo a consultoria, a falta de confiança é a maior barreira para o uso das tecnologias. Os números mostram que 41% dos entrevistados não confia no processo de compra de autoatendimento. Outros 25% não conseguem atendimento customizado sobre o que comprar e 22% acreditam não receber o atendimento que precisa de forma online.
O sentimento de insegurança em compartilhar dados pessoais nas internet também tende a afastar os produtores, mesmo depois da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ter entrado em vigor. Algo não tão injustificado, uma vez que, segundo a LGPD Abes e a empresa Ernest Young, apenas 31% dos negócios no segmento agro estão em conformidade com a lei. A conectividade também é um desafio. Um outro estudo da Fruto AgroInteligência, feito em 2020, indicou que geralmente a internet só funciona na sede das fazendas, e apenas 23% das propriedades tinha wi-fi na época.
Conclusão
Apesar do efeito platô apontado pelo estudo da McKinsey&Company, a tecnologia se tornou, sem dúvida, um braço forte no campo. Os grandes produtores há tempos perceberam que a produtividade e redução de custos de produção estão totalmente atrelados aos investimentos tecnológicos. Com a pandemia, essa percepção se intensificou também na agricultura familiar, uma vez que com o retorno dos filhos que investiram em estudos, para o campo, a sucessão familiar foi de certa forma antecipada. Ainda segundo dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse tipo de produção corresponde a 77% das propriedades rurais no Brasil. O nível de competitividade nos próximos anos deve aumentar com o uso mais eficiente das tecnologias.
Com a redução da idade média dos produtores, além dos altos preços das commodities e expectativa de safra recorde, o agricultor brasileiro pode ter caixa para investir em infraestrutura como internet e maquinários que otimize cada vez mais a forma de produzir com assertividade, seja na compra online, monitoramento climático ou infraestrutura.
Leia também: Como a internet no campo beneficia o agronegócio?
Deixe um comentário