Quando ouvimos a palavra “biotecnologia”, quase imediatamente vêm à mente imagens de laboratórios, aparatos complicados, misturas de compostos químicos, profissionais de jalecos, microscópios. Mas a verdade é que a biotecnologia pode estar mais perto de nós do que imaginamos, inclusive no dia a dia no campo. E mais: pode ser uma grande aliada da agricultura sustentável.
Neste artigo, vamos te mostrar como a biotecnologia tem se mostrado uma importante ferramenta para aumentar a produtividade e a rentabilidade no agronegócio. Mais que isso, é uma das principais estratégias para assegurar a saúde financeira dos empreendimentos agrícolas e, ao mesmo tempo, conservar a biodiversidade no campo.
O que é biotecnologia?
A palavra “biotecnologia” tem origem grega e pode ser entendida como a combinação de vida (bio), técnica (tecnos) e conhecimento (logos). Na prática, é um conjunto de processos de manipulação de organismos vivos com o intuito de modificar ou criar os mais diversos produtos. A biotecnologia está presente há séculos no dia a dia da humanidade – na fermentação de bebidas, pães e alimentos – mas, nas últimas décadas e com os avanços nas pesquisas sobre química, física, genética, biologia molecular etc.
Abaixo, é possível ver alguns dos mais importantes marcos do desenvolvimento dessa ciência:
Graças à codificação do DNA e a possibilidade de manipulá-lo, cientistas puderam modificar microrganismos com o intuito otimizar a produção de uma infinidade de produtos – tanto que foi preciso categorizar os “tipos” de biotecnologia:
- Biotecnologia vermelha: voltada para a medicina, humana e animal, diz respeito ao desenvolvimento de vacinas, medicações, próteses, exames de diagnóstico e muito mais;
- Biotecnologia branca: o foco é a indústria com o objetivo de encontrar mais sustentabilidade na produção industrial de alimentos, biocombustíveis etc.;
- Biotecnologia azul: estuda os biomas e a biodiversidade dos oceanos e, por isso, é capaz de oferecer solução para a produção de alimentos, remédios, biocombustíveis, entre outros;
- Biotecnologia cinza: voltada para o desenvolvimento de tecnologias ambientais, tais como melhoramento do solo, reaproveitamento de resíduos etc.;
- Biotecnologia marrom: busca encontrar soluções em lugares inóspitos, pouco habitados, como os desertos, criando plantas adaptadas para a seca, técnicas para o bom uso da água e de agricultura;
- Biotecnologia roxa: está presente em todas as demais áreas e diz respeito às discussões morais, éticas e de propriedade intelectual no ramo;
- Biotecnologia laranja: responsável pelo ensino e disseminação da biotecnologia, democratizando o acesso ao conhecimento;
- Biotecnologia preta: esse setor é o de desenvolvimento de armas biológicas e é um dos mais preocupantes, mostrando que o uso da ciência precisa ser norteado por princípios éticos;
- Biotecnologia dourada: voltada para a nanotecnologia e a bioinformática, desenvolvendo biossensores, programas, equipamentos e algoritmos para a análise biológica;
- Biotecnologia verde: responsável por criar soluções para a agricultura, como a criação de plantas com melhoramento genético, fertilizantes, bioinsumos, defensivos para pragas e doenças e muito mais.
Com essa variedade de áreas, a biotecnologia é uma das principais aliadas da indústria brasileira e tem sido um braço forte no crescimento da agricultura e pecuária no Brasil. A seguir, você vai ver como ela pode ajudar a elevar índices de rentabilidade, produtividade e sustentabilidade.
Agricultura e biotecnologia: um case de sucesso
A história da biotecnologia com a agricultura e com a pecuária é antiga e já faz parte do dia a dia da maioria das fazendas no Brasil. Alguns exemplos são:
- Inseminação artificial na pecuária;
- Adubos compostos;
- Vacinas, antibióticos e medicamentos em geral;
- Alimentos modificados geneticamente;
- Solução para contaminação de biomas;
- Produção de etanol e de biocombustíveis;
- Biorremediação de solos;
- Biorremediação de águas contaminadas por metais tóxicos;
- Produção de biopolímeros a partir da sacarose;
- Melhoramento genético;
- Rotação de culturas, controle biológico e plantio direto;
- Biopartículas e nanocompostos que estimulam mais resistência, crescimento radicular, entre outros.
E esses são apenas alguns dos processos mais populares. Vale destacar também que o melhoramento genético, por exemplo, já era realizado pelos homens desde a pré-história, por meio do cruzamento de plantas e animais sexualmente compatíveis. Desde então, a humanidade tem selecionado cereais e proteínas animais de maior valor nutricional e melhores resultados produtivos, moldando a forma como produzimos alimentos até hoje.
Por essa razão, a biotecnologia foi considerada uma das principais aliadas quando o assunto é a criação de técnicas e ferramentas que ajudem a estabelecer uma produção mais sustentável, alinhada aos compromissos feitos pelos países em acordos internacionais de cooperação para um futuro mais verde.
Um dos exemplos é o aumento ao apoio à biotecnologia que o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) tem dado no último ano. O IICA é um importante instituto que trabalha no desenvolvimento nacional e regional da ciência há mais de 15 anos e que busca criar soluções biotecnológicas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, cujo um dos principais desafios é a segurança alimentar nos próximos anos.
Suas ações incluem o acompanhamento técnico das regulamentações para a área, a capacitação, as ações de comunicação e democratização do conhecimento, além de se dedicar à tentativa de desmistificar preconceitos com a biotecnologia.
A atuação crescente do IICA e de outros órgãos – como o Bioagro, o CBiot, o Centro de Pesquisas em Genômica para Mudanças Climáticas – mostra que a biotecnologia ainda é um campo que oferece muito a ser explorado. Por isso, a projeção é que nos próximos anos algumas tecnologias que já existem podem passar a ser usadas em larga escala, como nos casos de determinadas culturas que já se tornam tolerantes aos herbicidas como glifosato e dicamba (na soja). Além disso, espera-se que mais soluções sustentáveis sejam oferecidas para a agricultura, aumentando a produtividade das cultivares, criando melhores condições de desenvolvimento das plantas e combate a pragas e doenças, melhorando a qualidade da água e o tratamento e a utilização dos rejeitos da indústria agrícola na cadeia produtiva e explorando as possibilidades que essa ciência pode oferecer.
Conclusão
Não há dúvida que os problemas ambientais atuais – como a mudança do ciclo climático, o aumento do período de seca e das temperaturas, a alteração das chuvas e a disponibilidade de recursos não renováveis – afeta diretamente a produção de alimentos. Nesse sentido, a biotecnologia tem se mostrado, há séculos, que é possível aumentar a produtividade sem prejudicar biomas. Além disso, essa ciência tem ajudado a agregar qualidade e rusticidade, tanto em produtos agrícolas quanto pecuários, mostrando seu poder de revolucionar o agronegócio e garantir segurança alimentar. Por isso, não há dúvidas de que a biotecnologia é um dos principais pilares de uma produção mais sustentável.
Confira tambéms: Biorremediação: solução sustentável para solos contaminados
Fontes:
Crop Life – Como a biotecnologia pode ser aliada da sustentabilidade
Scielo – Biotecnologia e desenvolvimento sustentável (Ana Clara Guerrini Schenberg)
Scielo – Biotecnologia na agricultura (Helaine Carrer, André Luiz Barbosa, Daniel Alves Ramiro
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