Green Bonds: sustentabilidade e rentabilidade

Os Green Bonds Principles (GBP), ou Princípios de Títulos Verdes, fazem parte de um movimento mundial de busca por um sistema econômico e produtivo voltado para o desenvolvimento sustentável. A tendência é que eles se tornem cada vez mais comuns, especialmente nos setores ligados ao agronegócio, o que pode ser observado na grande onda de projetos de sustentabilidade criados nos últimos anos e no impressionante montante de US$507 bilhões em títulos rotulados no mundo somente no primeiro semestre de 2021.

Mas o que são esses títulos verdes? Como podem ajudar o produtor rural a aderir práticas mais sustentáveis e quais as vantagens para agropecuaristas? E, mais ainda, como determinar se um empreendimento é realmente “verde”?

O que são “Green Bonds”?

Em resumo, os Green Bonds, ou Títulos Verdes, são papéis de dívida que têm como objetivo o financiamento de projetos voltados para a sustentabilidade. Esses títulos de dívida só são emitidos para projetos que geram algum impacto ambiental e, por isso, são a principal comprovação de que uma empresa é realmente capaz de promover benefícios para o meio ambiente.

Os Títulos Verdes podem ser emitidos por empresas, entidades multilaterais – organismos ou organizações internacionais que visam unir forças para alcançar um objetivo em comum – e até mesmo por instituições governamentais. A partir daí, os títulos são negociados no mercado de capitais, buscando atrair investidores preocupados em financiar projetos com impacto ambiental e social positivo.

No mercado, os Green Bonds se encontram na categoria de títulos de “use of proceeds”, ou seja, quando há um acordo que determina como deverá ser usado o capital proveniente dos investidores. Isso significa que, mais que captar o financiamento, é preciso transparência e compartilhamento de informações que comprovem que o valor atrelado aos títulos verdes está sendo, de fato, destinado ao projeto declarado no momento da emissão do título.

Em solo brasileiro, a maioria dos projetos vinculados aos Títulos Verdes são voltados para energia renovável, agricultura e pecuária sustentável, eficiência energética, controle e prevenção de poluição e transporte limpo (como veículos elétricos ou híbridos). Entretanto, o uso do valor captado pode variar de acordo com cada empreendimento.

Portanto, os Green Bonds são excelentes alternativas para quem quer investir em empreendimentos com bons retornos a longo prazo e que, além de tudo, contribuem para o futuro do planeta e para a mitigação das mudanças climáticas.

Mas qual a diferença entre os Green Bonds e os títulos de dívida tradicionais?

Em primeiro lugar, é preciso considerar que, no mercado financeiro brasileiro, os “bonds”, ou títulos, funcionam como papéis de renda fixa, quando o rendimento é previamente acordado com o emissor. Porém, no caso dos Green Bonds, a necessidade de direcionamento para práticas de mitigação de danos ao meio ambiente é inerente e anterior à disponibilização do título no mercado.

Os principais exemplos de Títulos Verdes são Debêntures, Debêntures de Infraestrutura, Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) e o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

Comparação de titulos verdes e convencionais são valores atrelados aos Green Bonds
Fonte: Guia para Emissão de Títulos Verdes, Febran, 2016.

Por exigirem mais comprometimento com o compartilhamento de informações, o processo de emissão de um título verde é bastante sério e rigoroso. Em primeiro lugar, o empreendimento precisa definir um projeto e comprovar os impactos positivos para o meio ambiente. Em seguida, é preciso definir os princípios que vão nortear o projeto, caracterizando as ações e os resultados a curto, médio e longo prazo. Por fim, é preciso ter em mente que, durante todo o período de validade do título, os responsáveis por captar o recurso precisam se comprometer a reunir e compartilhar dados sobre o andamento do projeto, deixando os investidores a par do que acontece na prática.

Quais as vantagens de um Título Verde para o produtor?

Sem dúvida, os primeiros ganhos são reputacionais: uma empresa comprometida com o futuro do planeta tem mais valor agregado no mercado. Isso porque pode se tornar autoridade no assunto da sustentabilidade ao dar visibilidade para Projetos Verdes. Além disso, pode ter como aliado o marketing positivo, reafirmando o potencial de preservação do meio ambiente e conquistando a confiança dos consumidores e investidores.

Outro ganho, portanto, é o acesso a novos investidores: fundos sustentáveis, investidores que estão focados em projetos verdes e financiamentos focados em resultados de longo prazo, que garantem capital mesmo em momentos de crise econômica.

Como consequência, os produtores podem otimizar etapas do processo produtivo como, por exemplo, uso sustentável do solo, conservação da biodiversidade, produção de biofertilizantes, gestão de resíduos eficaz e muito mais.

Por fim, há a possibilidade – ainda em vias de popularização – de pagar juros menores e obter melhores condições de pagamento em títulos verdes, como apontam as emissoras Climate Bonds Initiative (CBI) e a francesa Amundi, que mobilizam, globalmente, capital a ser investido em projetos sustentáveis.

ESG: Garantia e seriedade em projetos sustentáveis

Environmental, social, and corporate governance, ou, em português, Ambiental, Social e Governança (ASG). Estes são os três pilares da emissão de títulos verdes e, por essa razão, a agenda ESG é considerada o marco de gestão mais relevante no mercado atual, já que ajuda os empreendimentos a traçar metas e criar políticas que estruturam as atividades sustentáveis e seus aspectos. Cada um dos eixos pode ser definido da seguinte maneira:

  • Ambiental: minimização de impactos ao meio ambiente e articulação de um ativo ambiental. São exemplos o uso da água, energia renovável, conservação do solo e dos biomas, entre outros;
  • Social: alinhamento de estratégias com foco na justiça social. Métodos democráticos de contratação, boas condições de trabalho e treinamento de mão de obra são exemplos desse eixo;
  • Governança: envolve a criação de espaços para debater e estruturar tomadas de decisão. São exemplos a transparência de informações, políticas de conformidade institucional e de garantia dos princípios éticos na empresa.

O ESG garante que as informações e dados sejam acompanhados e compartilhados, mas vai muito além disso. São metas que asseguram o uso da questão ambiental como ativo, lastreando financiamentos. Também auxiliam na profissionalização do agronegócio, formando mão de obra especializada e, consequentemente, trazendo melhores resultados para os produtores. Além disso, garantem aos empreendimentos do agronegócio uma visão de futuro promissor e sustentável, o que dá segurança aos acionistas e atrai investidores.

Confira também nosso artigo sobre planejamento de custo de produção.

O futuro dos Green Bonds e a segurança do produtor

De acordo com o Climate Bonds Initiative (CBI), os Green Bonds devem injetar, até 2030, mais de US$700 bilhões na agropecuária, desde que garantidas as melhorias por meio de práticas ESG. Ainda segundo CBI, espera-se seriedade no compromisso com o meio ambiente, o que tem sido observado em grandes empreendimentos do setor.

Os Títulos Verdes são grandes aliados do agronegócio, abrindo espaço para novos investimentos e financiamentos, levando para o campo mais inovação, tecnologia e rentabilidade. Por isso, quem quer viabilizar o crescimento sustentável no agro deve aproveitar a oportunidade, planejar e reconhecê-la como um caminho possível para resultados expressivos e duradouros.

Fontes:

Climate Bonds Initiative

XP Investimentos

Jota Info

Exame

Capital Reset

Cientista social, mestranda em Educação com pesquisa na área de Ideologia da Família. Apaixonada por antropologia, psicanálise, historiografia, literatura e música. Atua como Designer instrucional, produzindo materiais didáticos em diversas mídias, conteúdo para redes sociais e marketing (B2B e B2C), usando técnicas de UX e Copywriting. Longa experiência com revisão de textos - acadêmicos e para a web -, redação e produção de conteúdo educacional.

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