Desde o ano passado, o Brasil tem registrado constantes alta nos preços de alimentos básicos, como milho, trigo e carne de vaca, carne de porco, carne de frango, entre outros. Os aumentos são consequência de diversos fatores, que passam, principalmente, pela elevação dos custos de produção de carne, derivados de leite, grãos, frutas, verduras e legumes, em consequência de efeitos climáticos, pandemia do covid-19, inflação e até mesmo o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstraram que no primeiro semestre do ano passado houve aumento de 65,9% na soja, 72,3% no milho, 24,4% no trigo, 38,1% no algodão, 18,3% no boi gordo, 65,3% no porco magro e 24,2% na carne de frango em relação ao mesmo período de 2020. O único produto a apresentar queda (de 11%) foi o arroz.
A alta dos preços desses produtos ocorreram por uma série de fatores, que passa pela crise hidrológica, pelo aumento dos preços internacionais, pela pandemia da covid-19 e pela desvalorização cambial proporcionada pela alta do dólar.
Foram esses mesmos fatores os responsáveis pelos preços elevados do segundo semestre do ano passado. Segundo levantamento pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), as principais commodities agrícolas utilizadas na indústria de alimentos, como milho, soja e café robusta subiram, respectivamente, 74%, 67% e 63% em agosto do ano passado, se comparado ao mesmo mês de 2020. Também foram constatados aumentos no açúcar (58%), na soja (37%), no trigo (35%) e leite (21%).
Em meio a esses aumentos, o valor atual da cesta básica praticado em algumas capitais brasileiras é equivalente a quase 60% do salário-mínimo, pior índice dos últimos 15 anos.
Desafios no início do ano
A situação, que já era grave, foi intensificada já no começo de 2022, em decorrência, principalmente, de dois acontecimentos. O primeiro deles foi a alta histórica nos preços de fertilizantes, impulsionada pelo aumento dos valores de matérias-primas, como gás natural e carvão. Outro fator determinante foram as restrições da China e da Rússia, que proibiram a exportação de fertilizantes fosfatados em prol de uma economia interna mais equilibrada.
A decisão tomada por dois dos maiores produtores mundiais de fertilizantes fez com que grandes produtores agrícolas, como Brasil, Índia e Estados Unidos, fossem diretamente prejudicados. A medida rapidamente elevou o preço da produção agrícola e, consequentemente, do produto final para o consumidor.
Já o segundo acontecimento foi o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos maiores produtores de grãos do mundo. O confronto imediatamente elevou o preço de produtos como o milho e o trigo, além de indicar novas altas a partir das próximas semanas, especialmente no que se refere ao aumento em cascata, já que o aumento no valor do trigo pode encarecer produtos como pão, enquanto o milho pode deixar mais cara itens como a carne de frango.
Impactos climáticos
Outro aspecto relevante para o aumento dos preços está ligado ao clima. No ano passado, por conta de uma situação climática menos favorável, houve uma redução de 25% na produção da segunda safra de grãos no Brasil.
O principal motivo para isso foi a La Niña, fenômeno meteorológico que pode causar chuvas, enchentes e secas, de acordo com cada região. No Brasil, a La Niña proporcionou um atraso na semeadura da soja no ciclo 2020/2021, o que beneficiou a oleoginosa, mas atrasou culturas de segunda safra. O clima também prejudicou os produtores de café e de milho – muitos deles chegaram até mesmo a ter prejuízos na safra – o que também contribuiu para o aumento do valor final desses produtos.
Soluções temporárias para altas nos preços
Em meio aos constantes aumentos de preços e um cenário que não indica melhora imediata na economia, os produtores rurais seguem tendo que usar a criatividade para evitar maiores estragos financeiros. Para isso, têm utilizado os insumos da maneira mais eficiente possível, economizando nas áreas em que isso é possível, sem deixar de lado a qualidade dos produtos brasileiros, considerados referência no mundo todo.
Também é importante realizar análises constantes do solo e explorar as aptidões de cada área. Por fim, também são essenciais nesse momento tão desafiador iniciativas como a adubação orgânica (com potencial para suprir a demanda de nitrogênio na lavoura), a rotação de culturas, o plantio direto, os bioinsumos e a adubação verde.
Conclusão
Desde o ano passado, os brasileiros têm acompanhado o constante aumento nos preços de alimentos, inclusive aqueles considerados itens básicos. Isso se deve a uma série de fatores, passando pelo clima, conflitos internacionais, restrições na exportação, entre outros.
Para produtores e agropecuaristas, esse conjunto de fatores tornou os seus trabalhos ainda mais difíceis. Os aumentos exigiram novos planejamentos e uma alta significativa em diversos produtos, desde o feijão à carne bovina. Com isso, o cotidiano do consumidor final também se tornou muito mais desafiador, a ponto de o valor da cesta básica chegar a quase 60% do salário-mínimo em algumas capitais brasileiras.
As perceptivas, infelizmente, ainda não são as melhores, já que o poder de compra do brasileiro continua caindo, ao passo que o confronto entre a Rússia e a Ucrânia segue gerando incertezas em relação ao futuro. Cabe ao produtor rural, mais uma vez, utilizar novas táticas no dia a dia para amenizar esse difícil momento que o mundo atravessa.
Fontes consultados
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