Yield Gap na agricultura e os conceitos de ambientes de produção

A quebra de produtividade, ou yield gap, é definida como a diferença entre distintos tipos de produtividade para uma condição específica de cultivo, saiba mais sobre este e outros conceitos sobre ambientes de produção.

Qual produtor que, após longos anos semeando na mesma área, nunca percebeu que algumas áreas do talhão eram sempre mais produtivas, ao passo que outras quase nunca rendiam muitas sacas?

Atualmente – e mais do que nunca – ficou fácil entender as causas dessa variação, e consequentemente tomar decisões para que essa variabilidade não seja causa de perda de dinheiro, e acima de tudo, seja causa de lucro. 

O que são ambientes de produção

Ambientes de produção (ou Zonas de Manejo e algumas vezes Unidade de Gestão Diferenciada) são subáreas de um cenário maior onde há uma relativa homogeneidade nos fatores limitantes da produtividade, de modo que o manejo de insumos pode ser realizado uniformemente. 

Essa “homogeneidade” está relacionada a diversos fatores como a rocha que deu origem ao solo, à textura (percentual de areia e argila) e consequentemente à capacidade dessa área em reter água. 

Aliás, essa talvez seja a principal característica para determinação dos ambientes de produção, a capacidade do solo de reter água.

Mas é importante lembrar que essa característica é dependente de diversas variáveis além das acima citadas como o teor de matéria orgânica, a estruturação do solo, uma possível compactação por tráfego de máquinas etc.

Em vias gerais os ambientes de produção são classificados como a, b, c etc. ou como ambientes de alta, média e baixa produtividade. 

YeldGab
Fonte: CHBAGRO

Porque limitar ambientes de produção?

Mas afinal, qual a funcionalidade prática em determinar esses ambientes de produção?

A determinação dos ambientes de produção permite ao produtor rural manejar sua lavoura de acordo com a singularidade de cada pedaço dela.

A quantidade de corretivo aplicado – como o calcário – será diferente de acordo com a demanda de cada área, o que acarreta em benefícios econômicos e ambientais, uma vez que não se coloca na terra mais insumos do que ela é capaz de responder.

A mesma lógica vale para defensivos, fertilizantes e até para a população de plantas que será estabelecida no começo da safra, como é possível ver neste artigo sobre semeadura em taxa variável. 

Tipos de Produtividade

Antes de definir o conceito de Yield Gap como previsto no título deste artigo, é importante falar sobre os diversos “tipos” de produtividade existentes.

As definições dos tipos de produtividade variam de acordo com autores na literatura. 

Em 2015, a partir de citações em trabalhos anteriores, o professor Paulo Sentelhas (em memória) do Departamento de Engenharia de Biossistemas da ESALQ/USP definiu seis tipos de produtividade hipotética. São elas:

  1. A produtividade real média;
  2. A produtividade real ótima que, como a produtividade real média, são influenciadas por fatores como o manejo, o controle de pragas, plantas daninhas etc.;
  3. A produtividade atingível, onde os fatores limitantes são os nutricionais e o déficit hídrico.
  4. A produtividade irrigada média;
  5. A produtividade irrigada ótima que, como a produtividade irrigada média, são influenciadas pelo manejo agrícola e o manejo da irrigação;  
  6. E por último a produtividade potencial, onde os fatores limitantes são diversos como a radiação solar, a temperatura, a carga genética daquela cultivar, a população de plantas etc. 
Tipos de produtividade e seus fatores limitantes. Adaptado de Sentelhas, Battisti e Monteiro (2016). 
Tipos de produtividade e seus fatores limitantes. Adaptado de Sentelhas, Battisti e Monteiro (2016)

YIELD GAP e ambientes de produção

Conhecendo os diversos conceitos de produtividade, o segundo conceito que vamos explorar neste artigo é o Yield Gap

A tradução literal desse termo é algo como “lacuna na produtividade” que, na prática, pode ser entendido como quebra de produtividade. 

A quebra de produtividade pode ser definida como “a diferença entre distintos tipos de produtividade para uma condição específica de cultivo, e serve para identificar as possíveis causas da redução da produtividade”4.

Isso quer dizer que, dependendo do tipo de produtividade que está se analisando e esperando, pelos resultados já é possível definir quais foram os principais fatores que limitaram essa produtividade. 

Por exemplo, quando a quebra de produtividade é obtida pela diferença entre a produtividade potencial (aquela maior, em um cenário perfeito) e a produtividade real média (a que a maioria dos produtores alcançam), se denomina quebra total, onde todos os fatores limitantes interferiram. 

Mas, qual a relação entre o Yield Gap e os ambientes de produção?

Os tipos de produtividade que permitem o entendimento do Yield Gap estão intimamente ligados aos ambientes de produção, uma vez que sua inferência depende de diversos fatores, que foram agrupados nos ambientes de produção.

Por exemplo, para entender se uma quebra de produtividade (yield gap) foi causada pelo fator genético, é preciso saber se a cultivar utilizada por aquele produtor era de fato a indicada para aquela região (no país) e aquele ambiente de produção (com alta ou baixa capacidade de resposta).

Onde o manejo varietal (da variedade ou cultivar, dependendo da espécie), é a própria proposta de plantar cultivares mais aptas a determinados ambientes, visando explorar ao máximo seu potencial produtivo.

A relação entre Yield Gap e ambientes de produção. Fonte: Canal Rural
A relação entre Yield Gap e ambientes de produção. Fonte: Canal Rural

Técnicas para evitar os gaps na produtividade

Dadas todas essas informações, é impossível não citar a Agricultura de Precisão como ferramenta para o entendimento da variabilidade da lavoura e a determinação dos ambientes de produção.

Cruzando diversos dados como histórico de produtividade, características físico-químicas do solo, precipitação média etc. É possível potencializar a produtividade e o lucro a partir da gestão diferenciada. 

Para encerrar, deixamos quatro técnicas para você evitar os gaps na produtividade da sua lavoura:

A estratégia básica para uma boa safra é semear a cultivar ou variedade indicada para o local em que se esteja.

No caso da soja, por exemplo, esse zoneamento é bem determinado uma vez que o país tem proporções continentais, diversas condições climáticas e muitos locais de cultivo.

Isso quer dizer que, se você possui uma fazenda produzindo soja no Paraná e outra na Bahia, nem pense em utilizar a mesma cultivar. 

  • Manejo hídrico

Se sua área é irrigada, o manejo adequado da disponibilidade de água é um fator de extrema importância para uma boa produtividade.

No caso de lavouras em ambiente não irrigado, o manejo hídrico se conecta ao zoneamento agrícola para o estabelecimento da cultivar ideal para aquela condição de precipitação e também para a escolha da data de plantio correta para que se aproveita ao máximo as chuvas.

  • Determinação de ambientes de produção

Obviamente o tema deste artigo não poderia ficar de fora dessas dicas, afinal determinar ambientes de produção dentro da lavoura assegura um manejo personalizado.

As chances de subnutrição das plantas ou da aplicação em excesso de corretivos e fertilizantes que atrapalham todo o balanço nutricional do solo são reduzidas consideravelmente quando se utiliza dos ambientes de produção. 

  • Manejo de pragas e doenças

E, por último, o manejo correto de pragas e doenças é fundamental para que se obtenha grandes números em produtividade safra após safra. 

REFERÊNCIAS:

  1. Ambientes de produção. Prof. Dr. Alexandrius Barbosa. UNOESTE. 2018.
  2. Ambientes de produção: o que é, o porquê de usar e como fazer. Grupo SGS.
  3. The soybean yield gap in Brazil – magnitude, causes and possible solutions for sustainable production. Paulo Cesar Sentelhas e colaboradores. 2015.
  4. Yield gap – conceitos, definições e exemplos. Paulo Cesar Sentelhas, Rafael Battisti e Lonardo Monteiro. 2016.

Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

One Comment

  1. Eliana Reply

    Estou a desenvolver uma monografia sobre ambientes de produção em uma fazenda em Angola e este foi uma das matérias que achei mais interessante é respondeu às minhas inquietações. Parabéns 👏

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