O agronegócio brasileiro é um grande produtor e exportador de commodities agrícolas. Exatamente por isso, conhecer o mercado e as formas de negociação é ponto essencial para ter sucesso na produção.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas a nível mundial. Dentre os muitos produtos produzidos em lavouras brasileiras, as commodities agrícolas (soja, milho, açúcar, carne, café, algodão, etc.) merecem destaque.
Em todo o mundo, as Commodities agrícolas constituem a base de desenvolvimento da economia, tendo em vista que a compra e a venda destas mercadorias contribuem com o desenvolvimento da sociedade.
Mas, apesar de estarem cada dia mais comuns nos noticiários e sempre presentes no nosso dia a dia, muitas pessoas ainda não sabem o que são as commodities agrícolas, nem como são precificadas e comercializadas.
Com base nestas dúvidas, elaboramos este post para falar tudo sobre as commodities agrícolas. Afinal, se elas são tão importantes para a nossa rotina, é interessante saber o que elas são e como são comercializadas.
O que são commodities agrícolas?
De forma geral, as commodities são produtos que funcionam como matéria-prima e que possuem algumas características específicas. Elas são produzidas em larga escala e podem ser estocadas sem perder a qualidade.
Na tradução livre do inglês, a palavra “commodity” significa “mercadoria”. Assim, no contexto de mercado, as commodities agrícolas são representadas por produtos com características padronizadas e sem diferenciação de origem, demandados em escala global.
As commodities agrícolas geralmente são usadas como matéria-prima na produção de outros produtos – esses, sim, de valor agregado.
Dessa forma, para que seja considerada uma commodity agrícola, as seguintes características devem ser consideradas:
- Grande importância mundial;
- Produtos de origem primária;
- Alto nível de comercialização;
- Produção em grande escala;
- Pouca ou nenhuma industrialização;
- Qualidade e traços uniformes de produção;
- Possibilidade de estocagem;
- Não há diferenciação de marca.
As commodities agrícolas caracterizam-se, também, por serem produtos homogêneos, ou seja, não há diferenças entre o que se produz mundo afora. A soja, por exemplo, é sempre a mesma, seja ela produzida no Brasil, na Argentina ou nos Estados Unidos.
O mesmo vale para mercadorias como carne, açúcar e milho, embora possam ser detectadas variações na qualidade.
Além do mais, por serem produtos consumidos em larga escala e com uma variação de preços considerável, as commodities também são vistas, muitas vezes, como um investimento.
Por que as commodities agrícolas são tão importantes?
Não é novidade para ninguém que o agronegócio possui extrema importância para o superávit da balança comercial brasileira. Mas, de forma geral, o sucesso do agronegócio nacional é devido às commodities agrícolas.
Sendo assim, o fortalecimento da economia brasileira depende fortemente das commodities agrícolas, com a exportação da grande maioria destes produtos primários impulsionando nossa economia.
Prova disso, é que o país ocupa as primeiras posições no ranking internacional de exportação e produção de diversas commodities agrícolas, tais como a soja, o açúcar e a carne bovina.
No caso da soja, o Brasil é o maior exportador do mundo, respondendo pela produção da metade de todo o grão consumido globalmente. Na safra 2020/2021, por exemplo, o Brasil teve uma produção recorde de quase 136 milhões de toneladas, aumento de 8,9% em relação à safra 2019/20.
No caso do milho, o Brasil ocupou a 3ª posição na produção mundial, com uma produção de cerca de 100 milhões de toneladas, superado apenas pelos Estados Unidos e pela China. Quanto à carne, o país produziu 10,4 milhões de toneladas em 2020, o segundo maior volume no mundo, logo atrás dos Estados Unidos.
Dessa forma, é possível entender que o mercado de commodities, mesmo diante dos muitos avanços da indústria de tecnologia e suas derivadas, ainda possui uma importância significativa na economia nacional.
Preço de commodities agrícolas: Como são formados?
Commodities, de forma geral, tem seus preços determinados pelo mercado mundial, com variação ocorrendo de acordo com a lei da oferta e demanda, representada pela imagem abaixo. Assim, quando há menor quantidade de determinada commodity no mercado, seus preços irão aumentar. Já quando a disponibilidade é maior, seu preço tende a diminuir.
Como também já vimos, não existe qualquer diferenciação de uma commodity produzida no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo, então o preço de negociação deste produto é decorrente da lei da “demanda e oferta mundial” pelo produto.
Ou seja, cada produtor desta commodity é um tomador de preço, com pouca ou nenhuma influência sobre o preço de mercado do produto que ele produz. Assim, os preços da entressafra costumam fazer os preços subirem.
Em um outro artigo, explicamos um pouco mais sobre a precificação das commodities, clique aqui para ler.
Mercado de commodities agrícolas: Como funciona?
Toda commodity pode ser negociada em diferentes mercados, envolvendo compradores e vendedores no mundo inteiro. De modo geral, as negociações da compra e venda de commodities agrícolas se dão no mercado de valores através de contratos futuros.
Assim, por meio do mercado financeiro, é possível comprar e vender contratos de sacas de soja, de milho ou de café, mas sem a necessidade de receber a mercadoria efetivamente.
Dessa forma, alguns são os principais tipos de mercado de commodities agrícolas, assim apresentados:
Mercado físico
O mercado físico é o mais tradicional, ele se caracteriza pela troca da mercadoria por dinheiro. Assim, qualquer produtor que vende suas commodities agrícolas para um comprador, seja no Brasil ou no exterior, está atuando dentro de um mercado físico.
No ambiente da bolsa de valores, o mercado físico é conhecido como mercado disponível ou spot, com suas negociações envolvendo a entrega imediata da mercadoria e seu respectivo pagamento à vista.
Mercado a termo
O mercado a termo é caracterizado por um acordo entre comprador e vendedor para compra ou venda da mercadoria a prazo. Os detalhes da negociação do mercado a termo são definidos de forma prévia e incluem preço, data de liquidação do contrato e quantidade da mercadoria.
Quando chegar a data acordada, cabe ao vendedor entregar ao comprador a commodity e recebe dele o pagamento, como combinado em contrato.
Essa modalidade de compra e venda é usualmente utilizada para eliminar os riscos de mercado de uma negociação, já que neutraliza a volatilidade das cotações.
Mercado futuro
O mercado futuro é considerado uma evolução do mercado a termo. Nele, compradores e vendedores negociam contratos futuros de commodities agrícolas também com preço, quantidade e data predeterminados.
Os contratos futuros são derivativos, ou seja, derivam de um ativo, que, para o nosso meio, são mercadorias agrícolas.
Uma característica relevante é que não ocorre a entrega física da mercadoria na ocasião do encerramento do contrato futuro. Assim, a liquidação é apenas financeira, efetuada pela diferença de preços. O ajuste, inclusive, ocorre diariamente pelas bolsas de valores, como a bolsa B3 ou a bolsa de Chicago (CME Group). Quer ser sócio das maiores empresas agrícolas do Brasil? Saiba mais sobre isso nesse outro artigo do nosso blog!
Muitos produtores optam pelo mercado futuro para comercializar suas commodities agrícolas para proteger sua safra de possíveis prejuízos – embora essa seja também uma estratégia utilizada no âmbito da especulação.
Um produtor pode usar os artifícios do derivativo para eliminar os riscos da oscilação de preço de sua produção e garantir mais previsibilidade de caixa.
Mercado de opções
O mercado de opções também é derivativo e, como o próprio nome diz, dá ao titular a opção de adquirir ou vender um ativo em data futura por um preço preestabelecido, com a negociação ocorrendo tanto em bolsas de valores quanto em mercados de balcão organizados.
Na bolsa, possuem características padronizadas, já no mercado de balcão, podem ser personalizadas conforme o interesse dos envolvidos na negociação.
O comprador (titular) pode adquirir do vendedor (lançador) opções de compra ou de venda. As opções de compra dão ao titular o direito de comprar o ativo/objeto, em data futura, por um preço estipulado com antecedência. A opção de venda dá ao titular o direito de vender a mercadoria em data futura por um preço previamente combinado.
Para ter esse direito (de comprar ou vender algo em determinada data por um preço predefinido), o titular paga ao lançador um valor pela opção, denominado prêmio.
Ficou complicado? Então veja um exemplo:
Imagine um produtor de soja que, temendo uma grande queda nos preços durante a safra, resolve comprar opções de venda da commodity. A opção estipula o valor de venda da mercadoria e a data futura.
Se, no vencimento da opção, o preço da soja tiver realmente caído, o produtor tem o direito de vender o ativo pelo valor acordado, protegendo a produção da desvalorização.
Curiosidade: devido à diferenciação, alguns produtos deixam de ser commodities
Como vimos até aqui, o Brasil é um grande produtor e exportador de commodities, com suas matérias-primas chegando em todo o mundo. No entanto, há alguns produtos agrícolas que, pela sua diferenciação e ganho em qualidade, deixam de ser commodity. Este é o caso dos cafés especiais.
Durante muito tempo, o café foi tratado como commodity, sem muita preocupação com a qualidade. Visava-se basicamente os ganhos em escala, onde a maior quantidade produzida significava maior lucro.
Hoje, a realidade é bem diferente. Por exigência do mercado, nasceram as certificações e o conceito de café especiais, capazes de garantir a pureza e a origem da bebida, tudo com a máxima qualidade.
O segmento cafeeiro que mais cresceu foi o de cafés especiais, que hoje já representa 12% do mercado internacional do produto. Mesmo custando cerca de 30 a 40% mais que o café comum, o café gourmet, como é chamado, tem conquistado cada vez mais adeptos.
Deste modo, o café ainda é uma commodity agrícola de importância, mas aos poucos vai saindo definitivamente da posição de commodity para se transformar num prazer cotidiano, associando qualidade, diferenciação e maior preço pago ao vendedor.
Referências
Pingback: Café especial: dicas para agregar valor à produção - Sensix Blog