A evolução no preço dos fertilizantes e como reduzir seu impacto

Na agricultura, a transformação dos insumos em produtos finais obedece o desenvolvimento fisiológico da cultura, sendo que alguns desses são fatores essenciais, desde o plantio até a colheita. Um exemplo simbólico são os fertilizantes, que tem grande responsabilidade no aumento da produtividade.

Mesmo carregando este fardo na lucratividade das lavouras, seu preço atual virou motivo de grande preocupação entre produtores. Em algumas regiões, seu valor ultrapassou os 100% de crescimento entre janeiro e setembro, segundo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Uma combinação de fatores contribuiu com este cenário, tais como preços internacionais elevados, alta demanda, escassez da oferta mundial e problemas logísticos. Em conjunto, tais condições atingiram em cheio os custos dos insumos agropecuários durante todo o ano de 2021.

Sendo assim, o produtor rural brasileiro precisa entender qual é a dinâmica de preços no mercado de fertilizantes, assim como as alternativas para aumentar o lucro da atividade diante deste cenário.

O crescimento do preço dos fertilizantes impacta o bolso do produtor
O crescimento do preço dos fertilizantes impacta o bolso do produtor. Fonte: Canal Rural

Por que o preço dos fertilizantes não para de subir?

Em 2021, a demanda mundial por fertilizantes deve fechar em quase 200 milhões de toneladas, segundo dados da Associação Internacional de Fertilizantes. No Brasil, a expectativa é que essa demanda supere 43 milhões de toneladas até o fim do ano.

Porém, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, o preço dos fertilizantes apresentou um salto imenso, com uma elevação quase que vertical em poucos meses e os estudos técnicos provaram isso.

De acordo com dados do Projeto Campo Futuro, realizado pela CNA/Senar, no acumulado do ano, os preços da ureia, do MAP (fosfato monoamônico) e do KCL (cloreto de potássio) subiram 70,1%, 74,8% e 152,6%, respectivamente. Já o glifosato foi o que teve o maior aumento, de 126,8%, devido, principalmente, à interrupção da operação de indústrias fabricantes na China.

Mas o que causou tudo isso? Por que os preços dos fertilizantes subiram tanto?

Segundo especialistas, essa evolução do preço de fertilizantes é consequência de uma série de fatores, dentre os quais vale citar como mais importantes: consequências da pandemia, alta do dólar, crises sociopolíticas e tomadas de decisão de governantes brasileiros no âmbito interno.

Consequências da pandemia de Covid-19

A pandemia de Covid-19 é, possivelmente, o fator que deu um início a todos os outros. A forma como consumimos, nos locomovemos e trabalhamos, por exemplo, mudou radicalmente nos últimos meses.  

Na produção e no comércio de fertilizantes, não foi diferente, com muitas empresas tendo que paralisar sua fabricação para conter o contágio, reduzindo significativamente a oferta.

Com o maior controle da Covid em todo o mundo, a situação começou a entrar novamente nos eixos, mas sem nunca se recuperar totalmente, tanto que muitas cargas de fertilizantes que rodam o mundo passaram a levar meses para chegar ao destino final.

Crise energética mundial

A crise energética na China afetou o abastecimento de fertilizantes em todo o mundo
A crise energética na China afetou o abastecimento de fertilizantes em todo o mundo. Fonte: CNN Brasil

A pandemia não é o único fator responsável pela evolução do preço dos fertilizantes ocorrida nos últimos meses. Com a retomada econômica pós-pandemia, o mundo se deparou com mais um problema: a crise energética. 

A crise surgiu devido à redução na produção de petróleo em função da queda na demanda em 2020 e devido à transição para energias limpas em alguns países (como a China), que não deram conta de suprir as novas necessidades mundiais. 

A opção de muitos destes países foi pelo gás natural, cujo preço, pressionado por uma forte procura, foi às alturas. Na Europa, por exemplo, este combustível apresentou um aumento de 1.000% só neste ano.

Vale lembrar que fertilizantes à base de nitrogênio dependem de grandes quantidades de gás natural, com isso, os países produtores logo acusaram logo o baque. A inflação desse tipo de insumo bateu a casa dos 200% ao longo do ano, acompanhados pelos fosfatados (aumento de 220%).

Medidas socioeconômicas restritivas 

Quanto aos fosfatados, os valores foram impulsionados pelo início da taxação norte-americana sobre o produto proveniente do Marrocos, que é um dos grandes fornecedores mundial. Em decorrência disso, os produtores americanos se viram obrigados a buscar outras origens.

Além do mais, de janeiro a julho de 2021, os preços médios do MAP (fosfatado monoamônico) negociado nos portos de Casablanca (Marrocos) e de São Petersburgo (Rússia) aumentaram 96,3% e 94,6%, respectivamente.

A justificativa para essa forte valorização se deve à medida restritiva da União Europeia aplicada à Bielorussia por questões políticas, que inclui a proibição da venda, fornecimento, transferência ou exportação via direta ou indireta de vários bens, produtos petroquímicos e cloreto de potássio. 

Tais medidas afetam todo o mercado, visto que a Bielorússia responde por pelo menos 20% da produção mundial de cloreto de potássio, sendo o segundo maior produtor do mundo.

Além disso, a China limitou as exportações para garantir o abastecimento doméstico. Isso se soma às elevadas taxas de frete, aumento de tarifas e condições climáticas extremas, que causaram disrupção nas exportações globais.

Tabelamento dos preços de frete após a greve dos caminhoneiros

No Brasil, há também alguns fatores que ajudam na evolução do preço dos fertilizantes. Em um primeiro momento, um problema crônico que temos é a alta dependência do mercado externo.

Para termos uma ideia, cerca de 80% do NPK que agricultores brasileiros utilizam é importado — para o potássio, as importações chegam a 97%, ou seja, o que acontece com o mundo invariavelmente afeta a agricultura brasileira.

Outro fator responsável pela alta do preço dos fertilizantes para agricultores brasileiros foi o tabelamento do valor do frete após a greve dos caminhoneiros, ocorrida em meados de 2018. 

A greve dos caminhoneiros e o tabelamento do frete elevaram os preços dos fretes no Brasil.
A greve dos caminhoneiros e o tabelamento do frete elevaram os preços dos fretes no Brasil. Fonte: UOL

De acordo com um levantamento feito pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), o valor do transporte rodoviário ficou 12% mais caro com a medida e levou ao aumento do preço dos fretes.

Os preços continuarão subindo: como o produtor deve agir?

A expectativa é de que o cenário de valorização dos preços de fertilizantes deve permanecer ao longo de 2022, e isso, invariavelmente, exercerá grande impacto na margem de lucro dos produtores rurais do Brasil. 

Certamente, essa situação preocupa todos os agricultores. Assim, para lidar com esse cenário de instabilidade e aumento do preço dos fertilizantes, é preciso buscar por alternativas. 

Uma das formas de lidar com os altos preços dos fertilizantes é buscar substituir (mesmo que parcialmente) os insumos importados. O agricultor pode buscar por fornecedores mais próximos da sua propriedade, reduzindo os custos do insumo com o fretamento e ainda pode encontrar fontes de nutrientes com benefícios semelhantes. 

Outra possibilidade são os fertilizantes orgânicos, que podem ser aplicados em largas escalas. Em geral, esses compostos são feitos com resíduos de origem animal, vegetal, urbano ou até mesmo industrial.

Apesar da alta eficiência nutricional dos adubos orgânicos, é importante ressaltar que a liberação dos nutrientes no solo é mais lenta do que a dos produtos químicos. Isso porque, ela é feita por processos naturais de digestão e mineralização através de microrganismos.

São fertilizantes orgânicos e podem ser usados nas lavouras:

  • Dejetos animais;
  • Vinhaça;
  • Torta de filtro;
  • Compostos orgânicos.
Fertirrigação com vinhaça. Uma excelente alternativa para a cana-de-açúcar aos fertilizantes químicos. Fonte: Cana online

Além disso, reduzir desperdícios no uso dos fertilizantes é uma necessidade cada dia mais recorrente. Cabe ao agricultor priorizar o modo de aplicação, o correto armazenamento dos insumos e investir em agricultura de precisão. Plataformas como o FieldScan auxiliam na otimização da aplicação, e podem ser usadas para geração de recomendação de aplicação de insumos a taxa variável ou mesmo taxa fixa.

Uso de tecnologia no campo.
Uso de tecnologia no campo. Fonte: Sensix

Saiba mais sobre aplicação de insumos a taxa variável neste outro artigo do nosso blog.

Com essas medidas, o agricultor não estará apenas reduzindo os efeitos da alta dos preços dos fertilizantes importados nos seus lucros, mas como também estará oferecendo benefícios para sua lavoura que podem incrementar a sua produtividade.

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Referências

CONAB

Canal Rural

Economia IG

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Fundador e Diretor Executivo da Sensix. Engenheiro Mecatrônico de formação e com vasta experiência no mercado de agricultura digital. Apaixonado por agricultura, drones e em fazer a diferença no mundo usando tecnologia.

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