Constantemente abordado na mídia, o La Niña é um fenômeno meteorológico de grande impacto na agricultura. Isso porque ele consiste em uma alteração cíclica das temperaturas médias do Oceano Pacífico, o que é capaz de modificar uma série de outros fenômenos, como a distribuição de calor, a concentração de chuvas e a formação de secas.
O fenômeno impacta as regiões do planeta de maneiras diferentes. A Austrália, por exemplo, passa a ter muito mais chuvas, enquanto a estiagem cresce na maior parte do Brasil, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. As exceções são o Nordeste e a Região Amazônica, em que há um aumento nas chuvas.
Para a primavera, estação que começou em 22 de setembro, meteorologistas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, preveem influência do La Niña no aumento de chuvas nas regiões Norte e Nordeste do país e uma menor regularidade de precipitações nas regiões Sudeste e, sobretudo, Sul.
Por outro lado, o Inmet afirma que os efeitos do La Niña não durarão tanto no Sudeste, de modo que a região terá aumento da frequência e do volume de chuvas em outubro e novembro, assim como as regiões Centro-Oeste e Norte. Contudo, o volume de chuva ainda não será suficiente para regularizar a situação de escassez hídrica.
No Sul, região mais atingida pelo La Niña, a primavera pode ter os primeiros episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), com chuvas fortes, rajadas de vento, descargas atmosféricas e eventual granizo. Em novembro, o Mato Grosso do Sul terá chuvas ligeiramente acima da média, enquanto o Rio Grande do Sul terá menos precipitações que o normal.
Nas últimas vezes que o fenômeno ocorreu, o Brasil teve poucas perdas nas safras, até porque o La Niña tende a ser menos prejudicial que o El Niño, já que distribui mais chuvas pelo Brasil. Contudo, existe sempre o risco de o fenômeno metrológico causar grandes impactos em lavouras de grãos em importantes estados produtores, como o Paraná e o Rio Grande do Sul, afetando, principalmente, as produções de soja e milho.
Tecnologia para lidar com o fenômeno
Apesar de causar efeitos negativos – e às vezes desastrosos – o La Niña já não é uma novidade para o produtor rural. Segundo o agro meteorologista Gilberto Cunha, as estiagens no sul do Brasil são recorrentes e, por isso, é preciso aprender a conviver com esse fenômeno. Desde a década de 1970, segundo ele, mais de 14 estiagens, com maior ou menor intensidade, assolaram o sul do Brasil.
O resultado disso é que muitas culturas são prejudicas no Sul e no Sudeste, duas das principais regiões para a produção agrícola brasileira. O maior impacto é na soja, no milho e no feijão. Contudo, existem meios para amenizar os efeitos do La Niña.
No caso das regiões com pouca água e solo mais quente e seco, os produtores devem fortalecer o solo, investir na qualidade das sementes e acompanhar as temperaturas e previsão do tempo para que, se possível, façam a semeadura no pó. Outra iniciativa válida é fazer o plantio escalonado, com diferentes ciclos e datas de semeadura.
Ainda que todos esses cuidados sejam tomados, é inevitável encarar os efeitos do La Niña, especialmente porque o fenômeno tem sido cada vez mais recorrente. “A percepção dos agricultores é de que esses fenômenos estão cada vez mais frequentes, e que o clima está cada vez mais difícil de ser interpretado dentro dos parâmetros que se tinha, em termos de plantio e de colheita. Eles dizem que as estações têm se alterado, e que essas mudanças têm ocorrido de forma muito rápida”, explicou o coordenador de produção agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Maciel Silva.
Por outro lado, as novas tecnologias também têm permitido que os produtores se adaptem mais rápido a essa situação. “Muito disso se deve ao fato de o Ministério da Agricultura e a Embrapa desenvolverem estudos sobre zoneamento agrícola e riscos climáticos, onde avaliam diferentes culturas e localidades, para então definir o intervalo ideal de uma cultura”, destacou o coordenador da CNA.
Por conta da constante evolução tecnológica da agricultura, a expectativa é que os produtores utilizem cada vez mais recursos para calcular os riscos e, assim, amenizar cada vez mais os efeitos negativos do La Niña.
Conclusão
O La Niña tem se tornado cada vez mais frequente e é responsável por mudanças climáticas que impactam diretamente a produção agrícola brasileira, já que é responsável pelo aumento nas chuvas no Nordeste e na queda na quantidade e no volume de precipitações nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e, principalmente, Sul. Essas mudanças causam constantes preocupações aos produtores, já que podem comprometer seu trabalho, especialmente no que se refere às culturas de soja, milho e feijão.
Por outro lado, por conta dos novos estudos e tecnologias, os produtores estão cada vez mais preparados para lidar com os efeitos do La Niña, ao adotar medidas como o fortalecimento do solo, investimento na qualidade das sementes e acompanhamento das temperaturas e previsão do tempo.
O fenômeno, portanto, é de grande impacto, mas cada vez mais os produtores têm se adaptado para amenizar os efeitos do La Niña na produção agrícola brasileira, que é uma das maiores do mundo.
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