O milho está bastante prejudicado nessa safra. As condições de campo devem resultar em uma menor produtividade prevista. A cigarrinha do milho tem participação na queda da produtividade, favorecida pelas condições ambientais, ela tem surgido em altas infestações, sendo o principal inseto vetor dos enfezamentos
O milho é uma cultura de grande importância no Brasil e no mundo. É um cereal utilizado para diversas finalidades, mas principalmente como alimento humano e ração animal. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, estando atrás apenas dos Estados Unidos e China e seguido pela União Europeia e Argentina.
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o Brasil produz hoje três safras ao longo do ano. A produção total está estimada em 93,4 milhões de toneladas de milho, representando uma redução de 9% em relação ao alcançado na safra anterior.
Grande parte dessa redução está nas adversidades climáticas que a cultura encontrou, principalmente na segunda safra e um pouco na terceira. Com o atraso da colheita da soja, o plantio de milho safrinha saiu da janela ideal. Isso, associado ao baixo volume de chuvas, irá resultar na baixa produtividade já esperada.
Entretanto, as baixas produtividades não estão restritas às condições climáticas. A ocorrência de pragas e doenças e a competição com plantas infestantes também são fatores que interferem na produtividade final da cultura.
Uma praga que foi muito favorecida pelas condições dessa safra foi a cigarrinha do milho. As temperaturas e presenças de campos em diferentes estágios fez com que houvesse uma alta infestação desta praga, que apesar de não causar danos diretos ao milho, é o principal inseto-vetor dos enfezamentos pálido e vermelho e da virose do raiado fino.
O que são os enfezamentos?
O complexo de enfezamento pode ocorrer em 100% das plantas em campo de uma lavoura de milho, podendo causar até perda total da produção. São causados por molicutes Fitoplasma (Maize bushy stunt phytoplasma) agente causal do enfezamento vermelho no milho e Espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) agente causal do enfezamento pálido.
O enfezamento pálido se caracteriza por estrias cloróticas claras da base para o ápice das folhas e o enfezamento vermelho pelo avermelhamento das folhas. Porém os sintomas podem ser confundidos ou acontecerem ao mesmo tempo no campo, por ter a presença simultânea de ambos enfezamentos.
Os enfezamentos podem resultar em danos capazes de gerar perdas totais na lavoura, a ponto de não justificar a colheita. Os principais danos são:
- Redução da absorção e assimilação de nutrientes pela planta;
- Redução na capacidade de produção de fotoassimilados;
- Redução no tamanho da planta;
- Encurtamento de entrenós;
- Ocorrência de super-espigamento;
- Espigas deformadas;
- Espigas improdutivas;
- Redução no tamanho de espigas;
- Grãos mal formados e chochos;
- Quebra de colmos;
- Má formação de palhas das espigas;
- Fungos oportunistas nas palhas, bainhas e colmos.
Esses danos e sintomas podem variar dependendo do nível de resistência do genótipo, da idade das plantas ao serem infectadas e das condições ambientais, principalmente a temperatura. As perdas ocasionadas podem chegar a 90%, principalmente quando são utilizados híbridos sensíveis ao complexo de enfezamento.
Cigarrinha do milho (Dalbulus maidis)
A cigarrinha é um inseto sugador responsável por danos indiretos que geram perdas expressivas na cultura do milho. Trata-se do principal inseto vetor transmissor de fitopatógenos como os molicutes (Fitoplasma e Espiroplasma) agentes causais do enfezamento do milho e do raiado fino.
Esse inseto praga pertence à ordem Hemiptera e família Cicadellidae. Quando adulto, possui coloração branco-palha, podendo ser acinzentada, medindo de 3,7 a 4,3 mm de comprimento. Apresenta duas manchas circulares negras na parte frontal e é frequentemente encontrada no cartucho do milho. A longevidade dos adultos pode chegar a 8 semanas.
As ninfas vivem no interior do cartucho e passam por cinco instares. Essa fase dura cerca de 17 dias e é sensivelmente afetada pela temperatura, abaixo de 20° C as ninfas não eclodem.
O ovo é amarelado, com um período embrionário de cerca de nove dias. As fêmeas ovipositam dentro dos tecidos das plantas, preferencialmente na nervura central da folha, no interior do cartucho. Cada fêmea pode pôr de 400 a 600 ovos.
A cigarrinha provoca injúrias nas plantas de milho pela sucção de seiva, injeção de toxinas e transmissão de fitopatógenos, como os molicutes dos enfezamentos e a virose do raiado fino. A infecção com molicutes ocorre preferencialmente nos estágios iniciais da cultura. Porém os sintomas de enfezamento se apresentam no período de enchimento de grãos.
Ao se alimentar da seiva de plantas doentes, a cigarrinha adquire os molicutes que ficam alojados nas glândulas salivares. Ao sugar a seiva de uma nova planta sadia, o conteúdo salivar contendo os molicutes é liberado e a planta sadia é infectada. A transmissão é do tipo “persistente e propagativa”, assim, uma vez que a cigarrinha de encontra infectada, ela transmite o vírus por toda a sua vida.
É uma praga bem adaptada às condições tropicais do Brasil. A presença de lavouras de milho em diferentes fases de desenvolvimento no campo, o cultivo de milho safrinha, as temperaturas elevadas e inverno ameno, favorece muito a sua infestação.
A ocorrência de plantas de milho tiguera e a manutenção de plantas com sintomas de enfezamento no campo, também favorecem sua sobrevivência e contaminação de plantas sadias. A cigarrinha se alimenta e se reproduz apenas no milho, assim, a presença dessas plantas e a falta de manejo são favoráveis para a sua multiplicação.
Além disso, possui alto potencial biótico e capacidade de migração a longas distâncias. A cigarrinha pode colonizar desde campos recém germinados até o florescimento, em função da progressão das gerações de insetos.
Métodos de controle da cigarrinha
Uma das principais estratégias de manejo é realizar o controle do vetor. Entretanto, existe uma grande dificuldade no controle químico, tanto da cigarrinha como dos molicutes. Diante de tanta complexidade, o manejo integrado é o mais indicado, visando reduzir as populações de vetores infectados e plantas contaminadas.
Algumas estratégias de manejo importantes são:
- Utilizar cultivares de milho com resistência genética ao complexo de enfezamento;
- Eliminar plantas voluntárias de milho na entressafra, que podem servir de inóculo dos patógenos para contaminar as cigarrinhas;
- Realizar o tratamento de sementes, essa é uma das principais estratégias para proteção inicial da cultura, pois quanto mais jovem for o milho, maior serão os danos causados pela transmissão dos patógenos;
- Fazer monitoramento e aplicações de inseticidas no período vegetativo, principalmente nos estágios iniciais;
- Evitar semeaduras tardias, que concentram cigarrinhas infectantes com molicutes, na nova lavoura, provenientes de lavouras com plantas adultas presentes nas imediações;
- Evitar cultivos de milho próximos a lavouras já com presença de enfezamentos;
- Evitar utilizar sistema de produção com semeadura escalonada;
- Diversificar híbridos e cultivares para evitar variação genética dos patógenos.
Atualmente existem registrados, pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, 30 produtos para controle da cigarrinha do milho.
Tabela de produtos registrados no MAPA para o controle de Dalbulus maidis.
Produto | Ingrediente Ativo (Grupo Químico) |
Adage 350 FS | tiametoxam (neonicotinóide) |
Bold | acetamiprido (neonicotinóide) + fenpropatrina (piretróide) |
Connect | beta-ciflutrina (piretróide) + imidacloprido (neonicotinóide) |
Cropstar | imidacloprido (neonicotinóide) + tiodicarbe (metilcarbamato de oxima) |
Cruiser Opti | lambda-cialotrina (piretróide) + tiametoxam (neonicotinóide) |
Cruiser 350 FS | tiametoxam (neonicotinóide) |
Cruiser 600 FS | tiametoxam (neonicotinóide) |
Curbix 200 SC | Etiprole (Fenilpirazol) |
Daniato | acefato (organofosforado) |
Galil SC | bifentrina (piretróide) + imidacloprido (neonicotinóide) |
Gaucho FS | imidacloprido (neonicotinóide) |
Imidacloprid Nortox | imidacloprido (neonicotinóide) |
ÍmparBR | tiametoxam (neonicotinóide) |
Inside FS | Clotianidina (neonicotinóide) |
Magnum | acefato (organofosforado) |
Much 600 FS | imidacloprido (neonicotinóide) |
Orthene Plus | acefato (organofosforado) |
Perito 970 SG | acefato (organofosforado) |
Picus | imidacloprido (neonicotinóide) |
Polytrin | cipermetrina (piretróide) + profenofós (organofosforado) |
Polytrin 400/40 CE | cipermetrina (piretróide) + profenofós (organofosforado) |
Poncho | Clotianidina (neonicotinóide) |
Racio | acefato (organofosforado) |
Saluzi 600 FS | imidacloprido (neonicotinóide) |
Sectia 350 | tiametoxam (neonicotinóide) |
Siber | imidacloprido (neonicotinóide) |
Sombrero | imidacloprido (neonicotinóide) |
Sperto | acetamiprido (neonicotinóide) + bifentrina (piretróide) |
Talisman | bifentrina (piretróide) + carbossulfano (metilcarbamato de benzofuranila) |
Vivantha | tiametoxam (neonicotinóide) |
Ainda assim, a eficiência das aplicações vai depender da pressão da cigarrinha no local e do efeito residual do inseticida. O uso de manejos integrados é sempre a melhor solução.
Conclusões
A cigarrinha do milho vem sendo um problema constante na cultura do milho, entretanto, as condições de cultivo dessa última safra favoreceu bastante para a sua alta infestação.
O principal problema causado por esta praga é a transmissão de doenças importantes como o complexo do enfezamento e o raiado fino.
Plantas suscetíveis ao enfezamento pálido e vermelho podem apresentar perdas muito expressivas na produção, chegando a ser inviável a colheita.
O melhor controle é o manejo integrado, visando diminuir a presença da cigarrinha através de controle químico, variedades resistentes e manejos culturais.
Está com problemas de enfezamento na sua lavoura? Percebeu o aumento da população de cigarrinha na sua área? Ficou com alguma dúvida? Deixe seu comentário e continue acompanhando para mais artigos do Agro.
Referências
U. S. Departament of Agriculture. USDA. Grain: World Markets and Trade.
Companhia Nacional de Abastecimento. CONAB. Acompanhamento safra brasileira de grãos, v.8– Safra 2020/21, n.10 – Décimo levantamento, Brasília, p. 1-110, julho 2021.
Sistema de Agrotóxicos Fitossanitário. AGROFIT. MAPA.
ALVES, E. Enfezamentos Vermelho e Pálido em milho. DuPont Pioneer. 2015.
Enfezamento do milho: Como fazer o manejo efetivo e evitar prejuízos. Sementes Biomatrix. 2020.
SANTOS, M. S. Enfezamento no milho, cuidados essenciais especialmente para safrinha. Mais Soja. 2021.
Cigarrinha-do-milho: entenda o que é enfezamento e seu controle. Mais Soja. 2020.
Cigarrinha do milho e a transmissão de doenças que afetam a produtividade. Revista Cultivar.
Cigarrinha-do-milho. Agro Bayer Brasil.
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