As plantas daninhas ainda são um grande problema na produção agrícola mundial. O uso de herbicidas é a principal forma de controle dessas plantas e trouxemos as principais moléculas ativas encontradas nos produtos utilizados.
A produção agrícola mundial está cada vez mais crescente, superando a produção a cada safra. O Brasil tem uma grande perspectiva e nos últimos dez anos teve um salto de US$20,6 bilhões para US$100 bilhões, com destaque para a produção de carne, soja, milho, algodão e produtos florestais.
A busca por maiores produtividades, para suprir a população que está em constante crescimento, leva a investigar quais são os fatores que afetam a cultura em campo. Além de condições climáticas, pragas e doenças, a presença de plantas daninhas também é um fator importante, que reduz a produtividade e aumentam os custos de produção.
O que são plantas daninhas e como controlá-las?
Também conhecidas como plantas infestantes ou tigueras, as plantas daninhas podem ser definidas como uma planta que ocorre onde não é desejada, prejudicando direta ou indiretamente uma atividade humana. São exemplos plantas que interferem em uma cultura comercial, podendo ser até uma planta cultivada, como milho em um cultivo de soja, plantas tóxicas em pastagens, plantas ao lado de refinarias, plantas diferentes no jardim, entre outras.
A presença dessas plantas na área causa a competição por água, luz e nutrientes. Além disso, muitas dificultam a colheita mecanizada e outros manejos, são hospedeiras de patógenos, abrigam vetores de doenças e insetos-pragas e nematóides.
Os métodos de controle são:
- Preventivo – são ações que visam reduzir o aparecimento de daninhas na lavoura como limpeza do maquinário e uso de sementes certificadas.
- Cultural – consiste na escolha de espécies adaptadas para a região, a época de plantio, densidade e espaçamento entre as plantas, rotação de cultura e plantio direto.
- Mecânico – é feito por meio do arranquio manual das plantas infestantes ou uso de equipamentos como a enxada e cultivadores (enxada fixa ou rotativa).
- Físico – pode ser realizado pela solarização do solo, com fogo ou inundação que matam a planta.
- Biológico – consiste no uso de inimigos naturais (fungos, bactérias, vírus, insetos, etc.) capazes de diminuir a população das plantas daninhas, entretanto não é muito utilizado no Brasil.
- Químico – é realizado com o uso herbicidas e é o mais utilizado na agricultura.
Apesar de algumas serem muito eficientes, é importante realizar o manejo integrado, aproveitando dois ou mais métodos e contribuindo para a melhoria do sistema agrícola. Alguns métodos, quando não utilizados corretamente, provocam o desequilíbrio do solo, água, pragas e doenças.
Herbicidas
O controle químico de plantas daninhas é realizado com a aplicação de herbicidas. Esse é o meio de controle mais utilizado atualmente.
Os herbicidas podem ser classificados de acordo com:
- Seletividade
- Seletivo: são aqueles que, dentro de determinadas condições, são mais tolerados por uma determinada espécie ou variedade de plantas do que por outras.
- Não Seletivo: são aqueles que atuam indiscriminadamente sobre todas as espécies de plantas. Geralmente são recomendados como dessecantes ou em aplicações dirigidas.
- Época de Aplicação
- Pré-plantio: tem como finalidade controlar a população inicial de plantas daninhas. A maioria são produtos não seletivos para a cultura, produtos voláteis, de curto residual, muito utilizados como dessecantes.
- Pós-plantio: pré-emergência ou pós-emergência da cultura principal e das plantas daninhas.
- Translocação
- Contato: quando atuam próximo ou no local onde eles penetram nas plantas.
- Sistêmico: quando se movimentam (translocam) nas plantas pelo xilema, floema ou ambos.
- Mecanismo de ação
- É a primeira lesão bioquímica ou biofísica que resulta na morte ou ação final do produto.
Existem vários equipamentos utilizados para a pulverização de herbicidas hoje. Com a tecnologia cada vez mais presente no campo, é possível escolher os equipamentos que melhor atendam o produtor. Devem ser considerados a área a ser aplicada, o tempo gasto, o relevo, o investimento, entre outras características.
A bomba costal é muito utilizada em áreas menores, por se tratar de um equipamento com reservatório menor e a aplicação é feita a pé, podendo o acionamento ser manual, elétrico ou a combustível.
A pulverização tratorizada é indicada para áreas médias a grandes, desde que com boa topografia e que as plantas não excedam a altura máxima para aplicação (a barra deve estar posicionada entre 70cm a 1m de altura do alvo).
A pulverização aérea tem sido cada vez mais comum, principalmente em áreas muito grandes de cultivo, podendo ser realizada por aviões agrícolas e helicópteros. Conseguem cobrir extensas áreas em curtos períodos de tempo, com tanques de grande capacidade. É necessário se atentar a grande deriva desse tipo de pulverização, devendo ser utilizado em áreas que não tenha cultivos próximos que possam ser prejudicados.
Uma alternativa de pulverização área que tem ganhado cada vez mais espaço é o uso de drones. Eles possuem uma capacidade menor porém conseguem realizar a aplicação localizada em situações impossíveis aos autoprepelidos, isso otimiza a aplicação, aplicando doses exatas nas áreas necessárias. Com o avanço da agricultura digital com precisão, esse tipo de aplicação tende a ser ainda mais comum.
Para que a aplicação ocorra de forma correta é necessário conhecer os fatores que interagem entre si, como:
- Características dos herbicidas – formulação, translocação na planta, compatibilidade com outros produtos, toxicidade, etc.
- Plantas daninhas – biologia, exposição, estádio de maior suscetibilidade, entre outros.
- Cultura – porte e arquitetura foliar, estágio de desenvolvimento, camada cerosa das folhas, etc.
- Condições ambientais – temperatura, umidade relativa do ar, velocidade do vento, ocorrência de chuvas, orvalho.
- Equipamentos utilizados na aplicação e condições operacionais – tipo de pulverizador, aplicação aérea ou terrestre, assistência de ar, pressão de trabalho, pontas de pulverização, e outros.
- Uso de adjuvantes – surfactantes, redutores de deriva, adesivos.
10 principais moléculas ativas dos herbicidas no Brasil
Todo herbicida é uma molécula química que precisa ser manuseada com cuidado. Quando constatada a necessidade do uso é necessário se atentar ao perigo de intoxicação, visando a máxima eficiência biológica e o mínimo de dano ao homem, às culturas vizinhas e ao meio ambiente.
Abaixo estão listadas as 10 principais moléculas ativas dos herbicidas mais utilizados no Brasil. Os dados foram retirados de uma matéria do G1 de 2019 (vide referências), que elencou os princípios ativos mais utilizados pelo Brasil, Estados Unidos e União Europeia.
1. Glifosato (Glyphosate)
Atualmente o N-(fosfonometil) glicina (glyphosate) é o herbicida mais utilizado no Brasil e no mundo. Apresenta espectro de controle muito amplo, quase não havendo seletividade, podendo controlar mais de 150 espécies de plantas daninhas, em diversas culturas.
O mecanismo de ação do glifosato é inibindo a enzima EPSPS (5-enolpiruvato-chiquimato-3-fosfato sintase) da via metabólica do ácido chiquímico, isso impede a síntese de determinados aminoácidos essenciais ao crescimento das plantas.
A translocação na planta é facilitada em condições de alta intensidade luminosa e é melhor em plantas com alta atividade metabólica. As folhas não devem ser cortadas durante a primeira semana após a aplicação, dessa forma há melhor eficiência de translocação para o sistema radicular.
A absorção pela planta é demorada. Em casos de chuva em intervalo menor que 4-6 horas, a eficiência desse herbicida pode ser reduzida. A morte da planta ocorre lentamente, de 7 a 14 dias após a aplicação (em plantas anuais).
Não costuma ser utilizado durante o ciclo de produção por afetar o cultivo principal. Entretanto, com a engenharia genética, já existem culturas resistentes ao glyphosate como a soja e o algodão.
Em relação à resistência adquirida pela pressão de seleção, ou seja, pelas repetidas aplicações do glyphosate, poucas espécies de plantas infestantes foram identificadas como resistentes. Mas o uso de outros herbicidas adicionados ao glyphosate é uma alternativa nesses casos.
No Brasil, o uso é autorizado no plantio de algodão, ameixa, arroz, banana, cacau, café, cana-de-açúcar, citros, coco, feijão, fumo, maçã, mamão, milho, nectarina, pastagens, pêra, pêssego, seringueira, soja, trigo e uva. Além disso também é indicado para o controle de plantas daninhas em áreas não cultivadas (rodovias, ruas), como dessecante em área de plantio direto e como regulador de florescimento em cana-de-açúcar.
2. 2,4-D (Ácido 2,4 diclorofenoxiacético)
Diferente do glifosato, esse herbicida controla apenas um grupo de plantas daninhas. Foi o primeiro herbicida seletivo descoberto para o controle de daninhas latifoliadas anuais cujo mecanismo de ação é de mimetização das auxinas naturais das plantas.
Existem formulações ésteres e sais. As ésteres e ácidas são prontamente absorvidas pelas folhas enquanto às a base de sal pelo sistema radicular das plantas. Em ambos os casos o 2,4-D se transloca por toda a planta, pois se movimenta pelo xilema e floema.
A alta atividade metabólica favorece a eficiência de translocação do produto. De modo geral as plantas apresentam maior tolerância com a idade, porém, durante o florescimento, a resistência a esse herbicidas hormonais é reduzida.
É recomendado para pastagens, gramados e gramíneas. É muito utilizado junto ao glifosato para aumentar a eficiência. Também é misturado com inibidores de fotossíntese na cultura da cana-de-açúcar e com piroclam para controle de daninhas perenes em pastagens.
3. Atrazina (Atrazine)
O 6-cloro-N-etil-N’-(1-metiletil)-1,3,5-triazina-2,4-diamina (atrazine) é um herbicida muito utilizado na cultura do milho, sendo, também, recomendado para sorgo, cana-de-açúcar, café, fruteiras, cacau, pimenta-do-reino, etc. Fumo e trigo são muito sensíveis ao atrazine. É seletivo e mais barato que alguns outros herbicidas.
É um inibidor do fotossistema II que age no aparelho fotossintético da planta impedindo o transporte de elétrons. Ele impede o transporte de elétrons da quinona A para a quinona B, assim gera um acúmulo de elétrons que causa a peroxidação dos lipídios da parede da membrana celular. Essa membrana acaba se rompendo, o que causa clorose seguida de necrose nas plantas, levando à morte.
É muito eficiente no controle de dicotiledôneas, porém em diversas monocotiledôneas é capaz de regular o controle.
4. Paraquat (Dicloreto de paraquat)
O 1,1’-dimetil-4,4’-dicloreto de piridilio íon (paraquat) é um herbicida não seletivo com amplo espectro de controle. É muito utilizado como dessecantes na pré-colheita de algumas culturas e no plantio direto. É um herbicida de contato, ou seja, não se transloca na planta, utilizado em pós-emergência de plantas daninhas mono e dicotiledôneas.
Esse herbicida é um inibidor do fotossistema I, ele intercepta elétrons do fotossistema I que paralisa a redução da ferredoxina, que é responsável pela produção de NADPH. Isso desencadeia a produção de radicais livres na planta, que levam a clorose, necrose e morte da mesma.
É um produto altamente tóxico para os homens e por isso a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu o uso em 2017. A Anvisa deu aos produtores três anos para adaptação, e no dia 22 de setembro de 2020 o seu uso foi proibido.
O produto era utilizado em muitas culturas agrícolas e era muito comum nas produções de soja como dessecante. É rapidamente absorvido pelas folhas e chuvas após 30 minutos não influenciam na sua eficácia.
5. Diuron
O N’-(3,4-diclorofenil)-N,N-dimetiluréia (diuron) é um herbicida sistêmico inibidor do fotossistema II como o Atrazine. É muito comum em culturas perenes como café e laranja. É utilizado em uma larga faixa de plantas daninhas, de folhas largas e gramíneas, tanto pré como pós-emergentes, sendo facilmente absorvido pelas raízes das plantas.
Também é utilizado em revezamento com o glifosato, por produtores de algodão e soja. Para o plantio direto é muito recomendado em misturas com outros herbicidas.
6. S-Metolachlor
O 2-cloro-N-(2-etil-6-metilfenil)-N-[(1S)-2-metoxi-1-metiletil)]acetanilida (s-metolachlor) é um herbicida pré- emergente registrado no Brasil para cana-de-açúcar, feijão, milho, soja e algodão. Controla principalmente gramíneas, mas também algumas dicotiledôneas.
É um cloroacetamida e embora o mecanismo de ação desses herbicidas já foi bastante estudado, o mecanismo bioquímico primário ainda é desconhecido. Mas é possível dizer que as cloroacetamidas afetam a síntese de lipídios, ácidos graxos, terpenos, ceras da camada cuticular das folhas, flavonoides e proteínas. De forma geral, as cloroacetamidas podem alquilar aminoacil tRNAs específicos e, com isso, inibir a síntese de proteínas.
É muito sensível a fotodegradação e volatilização, então é necessário aplicar em solo úmido e que ocorra chuva no espaço de cinco dias superior a 10mm. Para aumentar o espectro de ação é comum misturá-lo com latifolicidas como atrazine.
7. Mesotriona (Mesotrione)
O 2-(4-mesil-2nitrobenzoil) ciclohexano-1,3-diona (mesotrione) é um herbicida seletivo de ação sistêmica. É indicado para o controle em pós-emergência de plantas daninhas na cultura do milho, para diversas espécies de plantas dicotiledôneas e algumas gramíneas.
Esse herbicida inibe a biossíntese de carotenóides, através da interferência na atividade da enzima HPPD (4-hidroxifenil-piruvato-dioxigenase) nos cloroplastos. Após a aplicação, as plantas daninhas ficam esbranquiçadas, posteriormente necrosadas e chegando a morte dos tecidos vegetais em 1 a 2 semanas.
8. Acetochlor
O 2-cloro-N-(etoximetil)-N-(2-etil-6-metilfenil) acetanilida (acetochlor) é recomendado para uso em pré-emergência das plantas daninhas, devendo ser aplicado em seguida à semeadura, mas no prazo máximo de três dias após a última gradagem.
É um cloroacetamida como s-metolachlor, inibindo a síntese de proteínas. É utilizado em café, cana-de-açúcar, milho e soja, e, em muitas das vezes, é misturado a outros herbicidas.
9. Dicamba
O sal de dimetilamina do ácido 3, 6-dicloro-2-metoxibenzoico (dicamba) é um herbicida do mesmo grupo de mecanismo de ação que o 2,4-D, e o seu uso é semelhante. É facilmente translocado pelas plantas pelo floema, xilema ou ambos.
O uso é recomendado para o controle de daninhas, principalmente dicotiledôneas, em cana-de-açúcar, milho, trigo e pastagens. Também tem uso autorizado para algodão e soja, entretanto, ainda em menor uso.
10. Sulfentrazone
O 2′,4′-dichloro-5′-(4-difluoromethyl-4,5-dihydro-3-methyl-5-oxo-1H-1,2,4-triazol-1- yl) methanesulfonanilide (sulfentrazone) é um herbicida do grupo químico das triazolinonas, cujo mecanismo de ação inibe a atuação da enzima protoporfirinogênio oxidase (PROTOX). Na presença da luz e oxigênio, produz a forma reativa do oxigênio (oxigênio singlete), que resulta na peroxidação dos lipídios da membrana celular.
Sob luz solar, após 4-6 horas da aplicação pós-emergência, já é possível ver a necrose das folhas. É utilizado no controle de daninhas nas culturas do abacaxi, café, cana-de açúcar, citros, eucalipto, fumo e soja.
Novidade no mercado: o que está por vir?
Como visto, as plantas daninhas, quando não controladas, competem com a cultura principal por água, nutrientes e luz e isso acarreta na perda da produção. A busca por melhorias tecnológicas que ajudem no controle dessas plantas é constante e algumas já estão a caminho do mercado.
O sistema Enlist da Corteva é uma dessas novas tecnologias. Na cultura da soja agora é possível utilizar o 2,4-D, juntamente com glifosato e glufosinato em aplicações pós-emergência da cultura. No milho, além da tolerância ao 2,4-D, glifosato e glufosinato, também é tolerante ao haloxifope. Outra novidade para a cultura da soja é o sistema Intacta 2 Xtend da Bayer, que possui tolerância ao glifosato e ao dicamba.
Essas tecnologias estão previstas para a safra 20211/22 no Brasil e irão dar aos produtores maiores opções de manejo em plantas daninhas resistentes, tolerantes ou de difícil controle. Para a cultura do algodão também há tecnologias como essas em desenvolvimento, mas sem maiores detalhes.
É necessário ressaltar que o uso do dicamba ainda não agrada a muitos produtores devido a sua alta susceptibilidade a volatilização e a deriva. Diante disso, é necessário reduzir esses riscos e as empresas buscam por melhores formulações e pontas de pulverização mais adaptadas para as pulverizações.
Conclusão
As plantas daninhas estão presentes na maioria dos cultivos e o seu controle precisa ser realizado para que a cultura principal não seja afetada.
O controle químico com herbicidas é o mais utilizado e podemos destacar dez princípios ativos mais utilizados, se atentando a sua aplicação e ao mecanismo de ação.
Novas tecnologias irão surgir para otimizar a ação dos herbicidas e diminuir a resistência que as plantas daninhas têm adquirido com os anos.
Esperamos que tenha se informado com esse artigo e possa ter sucesso no seu cultivo. Se ficou com dúvidas ou tem observações, deixe seu comentário.
Confira: Resistência de plantas daninhas a herbicidas
Referências
muito bom!