Johanna Döbereiner: conheça a engenheira brasileira que transformou a agricultura com a fixação biológica de nitrogênio

Quando pensamos em grandes nomes que revolucionaram seus respectivos campos científicos, muitos de nós podem imaginar Albert Einstein e a teoria da relatividade geral, Marie Curie e a descoberta da radioatividade e de dois novos elementos químicos (rádio e polônio), Alan Turing e a computação… Entre inúmeros outros. Alguns deles, inclusive, deixaram uma marca negativa no mundo, como Robert Oppenheimer e a invenção da bomba atômica. A agricultura também está no rol de campos que passaram por grandes revoluções encabeçadas por pesquisadores notáveis. Um deles é Johanna Döbereiner, engenheira que transformou o cenário agrícola no Brasil com sua pesquisa sobre a

fixação biológica de nitrogênio (FBN) e potencializou a produção de soja, cana-de-açúcar e outras culturas nas lavouras do país – sem contar nos benefícios que trouxe à agricultura de todo o mundo. 

E é de Johanna e suas importantes contribuições que vamos falar hoje aqui no Blog Sensix! Leia nosso texto e conheça um pouco da biografia da cientista, além de entender do que se trata a FBN e como essa técnica impactou um dos nossos principais setores econômicos. 

Das origens na Europa à vida estabelecida no Brasil 

Nascida em 1924 na pequena cidade de Aussig, na antiga Tchecoslováquia, Johanna imigrou para o Brasil no pós-Segunda Guerra Mundial, após anos de tensão devido aos avanços nazistas pela Europa e as repercussões do conflito em todo o mundo. Seu pai, Paul Kubelka, era químico, enquanto sua mãe, Margarete Kubelka, foi presa por milícias tchecas e acabou morrendo em um campo de concentração antes da mudança da família para o continente americano. 

Johanna demonstrou afinidade pelas ciências agropecuárias desde cedo: em 1945, aos 21 anos, quando vivia na Alemanha Oriental com os avós (portanto, antes da imigração), começou a trabalhar com agricultura e pecuária. Isso a levou a cursar Agronomia na Universidade de Munique, onde viria a conhecer seu futuro marido, o estudante de Medicina Veterinária Jürgen Döbereiner.

Johanna Döbereine se interessou pelas ciências agronômicas desde jovem, antes mesmo de vir ao Brasil. Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

Johanna se interessou pelas ciências agronômicas desde jovem, antes mesmo de vir ao Brasil. Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal 

Foi em 1951 que o casal Döbereiner seguiu os passos do pai de Johanna, que três anos antes havia se mudado para o Brasil a trabalho. Aqui, vivendo na cidade de Itaguaí (RJ), Johanna começou a trabalhar no Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas, a atual Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde conheceu seu futuro mentor: Álvaro Barcelos Fagundes, agrônomo que atuava como diretor da instituição. 

Sob a orientação de Fagundes, Johanna se envolveu cada vez mais com o trabalho laboratorial em agricultura. Foi assim que surgiu seu interesse pela ação de bactérias que extraem nitrogênio do ar e o disponibilizam para as plantas – a fixação biológica de nitrogênio

Descoberta revolucionária: a fixação biológica de nitrogênio 

Grande foco da pesquisa de Johanna, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) remete a um processo natural em que certas bactérias, como as do gênero Rhizobium,

convertem o nitrogênio presente na atmosfera (N₂) em substâncias que podem ser utilizadas por plantas e outros seres vivos, incluindo os seres humanos. 

Na natureza, essas bactérias – conhecidas como fixadoras de nitrogênio – são encontradas no solo ou em simbiose com raízes de plantas. Por meio da fixação, determinadas espécies, como a soja e a cana-de-açúcar, são capazes de capturar o N₂ e aplicá-lo diretamente no substrato. A principal consequência do processo é que ele limita ou até elimina a necessidade de fertilizantes nitrogenados, considerados caros e poluentes. 

A fixação biológica de nitrogênio revolucionou toda a agricultura brasileira, potencializando nossa produção de soja e cana-de-açúcar. Imagem: Reprodução/Imagem de Fabiano Bastos 

Basicamente, a descoberta de Johanna indicava que determinadas plantas seriam capazes de gerar o próprio adubo sem a aplicação de produtos químicos. Foi por isso que a FBN se tornou a técnica central na produção agrícola do Brasil, levando o país ao posto de um dos maiores produtores de soja do mundo (e um de seus principais exportadores) e potencializando o plantio de cana-de-açúcar, cultura essencial para a produção de etanol no Brasil (e que nos torna um dos líderes mundiais em produção de biocombustíveis de modo geral).

Lembra quando dissemos que a pesquisa de Johanna se aplicou não somente ao Brasil, mas também ao mundo? Pois bem: hoje, a fixação é utilizada por vários países que cultivam leguminosas. Argentina, China, Estados Unidos e Índia são apenas alguns exemplos que seguiram a esteira da descoberta da agrônoma. 

Além do benefício econômico, a FBN representa uma prática indispensável para a agricultura sustentável, o que vai ao encontro de um cenário agrícola mundial cada vez mais preocupado com questões de sustentabilidade e preservação de recursos naturais em meio às constantes mudanças climáticas. 

A aclamação de Johanna Döbereiner 

A fixação biológica de nitrogênio é prova suficiente da importância do trabalho de Johanna Döbereiner para a agricultura brasileira e mundial. Mas a pesquisadora deixou muitas outras marcas impressionantes, tanto em vida quanto após sua morte, em 2000, que também merecem destaque. 

Veja a lista de algumas conquistas da cientista: 

– Mestre em microbiologia do solo pela Universidade de Wisconsin (EUA) – Nomeada doutora honoris causa pela Universidade da Califórnia (EUA) e pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) 

– Atuou como vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (1977) – Convidada a integrar a Pontifícia Academia das Ciências do Vaticano (1978) – Homenageada com o Prêmio de Ciências da Unesco (1989) 

– Homenageada com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito (1989) – Publicou mais de 500 artigos científicos em periódicos brasileiros e internacionais

Diploma de Johanna Döbereiner na Academia Brasileira de Ciências

Diploma de Johanna na Academia Brasileira de Ciências. Imagem: Reprodução/Embrapa 

Talvez a prova mais irrefutável da contribuição de Johanna Döbereiner para a ciência mundial tenha sido sua indicação ao Prêmio Nobel de Química em 1997, sendo a primeira e única cientista brasileira com esse reconhecimento. 

É preciso dar o devido reconhecimento a pessoas como Johanna Döbereiner 

Uma coisa é clara: se o Brasil é um dos grandes líderes em produção e exportação de commodities como soja e cana-de-açúcar hoje, muito disso se deve à atuação de Johanna Döbereiner na pesquisa científica. 

Mesmo sendo reconhecida como uma das cientistas mais importantes para a agricultura em todo o mundo, Johanna parece não ter tanto reconhecimento no país. Talvez isso se deva a um certo “descrédito” que nossos cientistas recebem… Mas esse assunto fica para outro momento. Por ora, queremos apenas destacar a relevância do trabalho de Döbereiner e suas repercussões no nosso presente.

A Sensix, comprometida com o avanço tecnológico na agricultura, tem muito orgulho de fazer parte de um legado tão incrível, inspirado por figuras como Johanna Döbereiner. E aproveitamos para convidar você a conhecer e testar nossas soluções para produtividade agrícola, em especial o FieldScan, que pode potencializar ainda mais seus resultados na lavoura! 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *