Conheça a técnica de cultivo que utiliza plantas para preservar o solo e reverter os efeitos de más práticas
Apesar dos avanços notáveis na forma como utilizamos o solo e outros recursos naturais, uma coisa é inegável: tantos anos de atividades de forte impacto e pouca responsabilidade para com o meio ambiente criaram um sério problema de degradação, cujos efeitos são cada vez mais sentidos.
Pensando assim, é preciso buscar estratégias que contenham os danos e, quando possível, sejam capazes de revertê-los (mesmo que em longo prazo). E esse é o papel da adubação verde, nosso tema de hoje. Vem conosco conhecer a técnica e entender como ela pode ser promissora para a produção agrícola no Brasil!
O que é a adubação verde
A adubação verde é uma técnica que consiste no cultivo de certas espécies vegetais com o objetivo de proteger o solo, melhorar suas condições naturalmente e aumentar o potencial produtivo da área. Os adubos verdes, como são conhecidas as plantas, servem de cobertura no período entre as safras –quando o solo fica mais exposto aos efeitos do sol, da erosão e afins.
Em termos de aumento do potencial produtivo, as plantas são capazes de reciclar nutrientes presentes tanto na atmosfera quanto nas camadas mais profundas do solo. Outra característica que elas trazem é um sistema radicular forte, o que contribui com a sua resistência a intempéries e o seu desenvolvimento gradual.
Ah, você pode aproveitar e ver esta reportagem incrível da Unesp (Universidade Estadual Paulista) sobre a adubação verde:
Que plantas podem ser usadas
De modo geral, não há restrições em relação às espécies de plantas que podem ser utilizadas na adubação verde. Mesmo assim, algumas delas são mais indicadas em função de determinadas características. Veja só:
- Leguminosas
As leguminosas têm raízes profundas, que contribuem com a estrutura do solo e aumentam a sua porosidade –como falamos mais adiante. Além disso, elas enriquecem o substrato com nitrogênio, nutriente essencial para o desenvolvimento das plantas.
As principais leguminosas utilizadas na adubação verde são feijão miúdo/caupi (Vigna unguiculata), crotalárias (Crotalaria spp), mucunas (Sthilozobium spp), feijão guandu (Cajanus cajans), entre outras.
- Crucíferas
As crucíferas são capazes de liberar substâncias que combatem patógenos e outros agentes de risco que poderiam afetar o solo. O principal exemplo da espécie é o nabo-forrageiro (Raphanus sativus L.).
- Gramíneas
Marcadas pela grande quantidade de raízes, as gramíneas são ricas em celulose –produto bastante resistente à decomposição. Após o cultivo, a celulose é “atacada” por bactérias e micróbios que liberam uma substância capaz de deixar o solo mais poroso e úmido, auxiliando na descompactação.
Os principais representantes de gramíneas são milho (Zea mayz), centeio (Cecale cereale), aveia preta (Avena strigosa), milheto (Pennisetum glaucum) e sorgo (Sorghum bicolor).
- Asteraceae
A principal planta da família é o girassol, capaz de reciclar nutrientes rapidamente por possuir raízes profundas. Além disso, ele deixa uma ampla cobertura verde após se desenvolver no solo.
Como é feita a adubação verde
Existem algumas formas distintas de realizar a adubação verde, sendo as principais em sucessão, rotação ou consórcio com a cultura de interesse do produtor.
- No sistema de sucessão, o produtor cultiva os adubos verdes antes da lavoura em si.
- No sistema de rotação, o produtor divide a área em seções. Em cada uma delas, ele cultiva os adubos verdes de forma rotacionada (isto é, em ciclos) com a cultura principal.
- No sistema de consórcio, o produtor cultiva os adubos juntamente à lavoura –como em filas intercaladas. Ele também é conhecido como “plantio de adubos verdes em coquetel” e facilita a colheita futuramente.
Não importa o sistema escolhido, há uma constante: a maneira como a adubação verde funciona. Nela, os rizóbios –bactérias benéficas para plantas– agem para metabolizar o nitrogênio no solo, além de extrai-lo da atmosfera, o que o deixa mais nutritivo e preparado para novos ciclos de plantio (e menos descompactado).
As vantagens da adubação verde
A adubação verde oferece algumas vantagens claras ao solo e, por consequência, à lavoura. Veja as principais delas:
+Maior disponibilidade de nutrientes
Com os processos químicos gerados pelas plantas de cobertura, o solo fica mais rico em nutrientes e preparado para novos ciclos de plantio. Isso vale sobretudo para o nitrogênio, que é fornecido por espécies como leguminosas.
+Descompactação do solo
Como o sistema radicular dos adubos verdes é forte, elas conseguem penetrar camadas de solo duras e compactadas. À medida que novas plantas passam por esse mesmo processo, ainda que não tenham a mesma força nas raízes, a terra fica mais solta. Assim, elas são capazes de acessar mais água e nutrientes (como oxigênio, que passa a circular melhor).
+Controle da erosão
Quanto maior é a cobertura vegetal em uma área, menor é o risco de erosão. Isso ocorre porque a vegetação cria uma espécie de barreira que protege o solo de agentes que poderiam impactar a sua integridade, a exemplo do contato excessivo com a chuva e o sol.
+Controle biológico e conservativo de pragas agrícolas
As plantas de cobertura auxiliam no controle e na conservação de pragas agrícolas, que se abrigam e se alimentam delas.
+O aumento da quantidade de matéria orgânica no solo
Além da maior presença de matéria orgânica, surgem mais micro-organismos no solo –o que melhora a sua estrutura interna e, inclusive, o deixa mais escuro.
O combate à erosão do solo é uma das principais vantagens da adubação verde. Imagem: Reprodução/Imagem do Freepik
Esses são alguns dos principais benefícios da adubação verde, mas não são os únicos. Veja só algumas vantagens extras:
+A mobilização de nutrientes pouco solúveis entre as camadas do solo, contribuindo com a sua fertilidade
+O combate a pragas e doenças dispensando a aplicação de produtos químicos
+Melhoria na infiltração do solo, muitas vezes como consequência da descompactação
Pode parecer, mas não é nada rudimentar
Apesar dos ares um pouco rudimentares, a adubação verde não tem nada de antiquada ou ultrapassada. Pelo contrário: é uma técnica simples, mas que gera efeitos para lá de avançados e positivos em lavouras de vários tamanhos.
Ela mostra, mais uma vez, que os impactos gerados pela sobrecarga de atividades humanas no nosso solo podem ser contidos e até revertidos com ações descomplicadas. É por isso que ficamos na torcida pelo sucesso de mais técnicas verdes assim!
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